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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

século XI a questão do amor vinha assumindo no contexto da própria socieda<strong>de</strong><br />

medieval e que se traduziu num aumento da poesia <strong>de</strong>dicada ao amor, escrita<br />

primeiro em latim, e mais tar<strong>de</strong> em provençal; dos romances que <strong>na</strong>rram histórias<br />

maravilhosas <strong>de</strong> amor como Tristão e Isolda; e ainda <strong>de</strong> obras <strong>de</strong>dicadas ao<br />

amor, como o De <strong>Amor</strong> <strong>de</strong> André Capelão.<br />

É pois neste ambiente em que o amor apaixo<strong>na</strong>do parece domi<strong>na</strong>r a vida<br />

dos homens que vivem no tempo, que os teólogos, numa espécie <strong>de</strong> reacção<br />

começam a revelar-se preocupados com as relações entre o amor mundano e o<br />

amor divino caminhando no sentido <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que o amor apaixo<strong>na</strong>do, apesar<br />

<strong>de</strong> ser um amor pecador, po<strong>de</strong> evoluir <strong>de</strong> modo a transformar-se num amor<br />

divino. Até porque esse amor tem uma origem divi<strong>na</strong>.<br />

Esta é, a posição <strong>de</strong> Guilherme <strong>de</strong> S. Thierry (1075-1148) que escreve no<br />

De <strong>na</strong>tura et dignitate amoris: «Ipse enim amor a Creatore inditus» e ainda «<strong>Amor</strong><br />

ergo, ut dictum est, ab auctore <strong>na</strong>turae <strong>na</strong>turaliter est animae huma<strong>na</strong>e» 40 . Se o<br />

amor sentido pelo homem tem uma origem divi<strong>na</strong>, então não existe uma oposição<br />

entre o amor humano e o amor divino e é possível pensar numa continuida<strong>de</strong><br />

entre um e outro. Para Guilherme <strong>de</strong> S. Thierry esta continuida<strong>de</strong> envolve um<br />

processo <strong>de</strong> purificação, necessário <strong>na</strong> medida em que o amor colocado <strong>na</strong> alma<br />

por Deus é corrompido pela malícia do pecado acentuada por aqueles<br />

professores do amor car<strong>na</strong>l e fétido que ensi<strong>na</strong>m o homem a tor<strong>na</strong>r-se libertino e<br />

a imergir <strong>na</strong> concupiscência car<strong>na</strong>l 41 , afastando-os da lei <strong>de</strong> Deus. Daí que, para<br />

este monge beneditino, o amor que Deus colocou <strong>na</strong> alma huma<strong>na</strong>, precise <strong>de</strong><br />

ser educado, purificado, <strong>de</strong>senvolvido e consolidado, o que ocorre através <strong>de</strong> uma<br />

aprendizagem da alma. É à alma que, no seu enten<strong>de</strong>r, cabe realizar a educação<br />

do homem, possibilitando que evolua até um nível superior que é o amor divino.<br />

Guilherme <strong>de</strong> S. Thierry apresenta um projecto teológico baseado <strong>na</strong><br />

constituição huma<strong>na</strong> e segundo o qual atribui à alma aquilo que <strong>de</strong>sig<strong>na</strong> por<br />

“sentidos espirituais” que correspon<strong>de</strong>m aos diferentes sentidos do homem.<br />

Encontra-se assim o sentido espiritual do tacto, o sentido espiritual do gosto, do<br />

cheiro, do ouvido e da vista. A cada um dos sentidos espirituais faz correspon<strong>de</strong>r<br />

formas <strong>de</strong> amor diferentes. Ao tacto faz correspon<strong>de</strong>r o amor dos pais; ao gosto o<br />

40<br />

GUILHERME DE S. THIERRY. De <strong>na</strong>ture et dignitate amoris, 1, 1-2. Apud IMBACH, Ruedi e ATUCHA,<br />

Iñigo. Amours Pluriels, ed. cit., 33-34.<br />

41<br />

Guilherme <strong>de</strong> S. Thierry está a fazer referência a Ovídio e à obra Ars amandi muito difundida <strong>na</strong> altura.<br />

26

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