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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo I – O PROBLEMA DO AMOR NA IDADE MÉDIA<br />

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Para além dos textos bíblicos os teólogos têm também ao seu dispor a<br />

literatura lati<strong>na</strong>, com obras como Ars amandi <strong>de</strong> Ovídio e De amicitiae <strong>de</strong><br />

Cícero.Em relação à obra <strong>de</strong> Ovídio, entendida pelo teólogo medieval como uma<br />

obra que aborda o amor <strong>na</strong>tural, uma forma <strong>de</strong> amor que, a todos os níveis se<br />

coloca no plano oposto do amor divino, é enquanto contraponto que a vemos<br />

constituir-se como fonte <strong>de</strong> especulação teológica. Um autor como Guilherme <strong>de</strong><br />

S. Thierry escreve De <strong>na</strong>tura et dignitate amoris como um tratado sobre o amor<br />

cristão que se opõe ao amor car<strong>na</strong>l e fétido <strong>de</strong> que fala o «doctor artis ama<br />

toriae» 9 . Outro será o <strong>de</strong>stino da obra <strong>de</strong> Cícero, De amicitiae, que constituirá, ao<br />

longo da Ida<strong>de</strong> Média uma importante referência para a especulação teológica, e<br />

não ape<strong>na</strong>s a obra em si mesma mas também a «cristianização» das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong><br />

Cícero que se foi constituindo como um património i<strong>de</strong>ológico transmitido por<br />

autores como Cassiano, Ambrósio e sobretudo Agostinho.<br />

Ao texto bíblico e à literatura lati<strong>na</strong> há ainda a acrescentar a fonte constituída<br />

pela Filosofia Grega em tradução lati<strong>na</strong>. Nos primeiros tempos da Ida<strong>de</strong> Média<br />

tratava-se sobretudo da filosofia estóica, transmitida pelo próprio Cícero, mas<br />

também Séneca e Marco Aurélio, e da filosofia neoplatónica <strong>de</strong> Plotino e Porfírio,<br />

em gran<strong>de</strong> parte difundida por Santo Agostinho. A estes viria a juntar-se, <strong>na</strong><br />

segunda meta<strong>de</strong> do século XII, a filosofia aristotélica, sendo que é só em 1246<br />

que surge a primeira versão lati<strong>na</strong> da Ética a Nicómaco realizada por Roberto<br />

Grosseteste, obra on<strong>de</strong> Aristóteles aborda, no livro VIII, o problema do amor e da<br />

amiza<strong>de</strong>. Se é possível encontrar reflexos da Ética a Nicómaco em algumas<br />

reflexões feitas pelos teólogos medievais nomeadamente quando distinguem<br />

entre amor <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e amor <strong>de</strong> concupiscência 10 , a verda<strong>de</strong> é que a influência<br />

aristotélica, e segundo a interpretação feita por Nygren, foi <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>nte no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o amor não é ape<strong>na</strong>s um sentimento que liga<br />

indivíduos, mas um “apetite”, um “<strong>de</strong>sejo” em função do qual é possível explicar<br />

todo o processo <strong>de</strong> actualização da potência, o mesmo é dizer o processo que<br />

9 Referência a Ovídio.<br />

10 Com efeito a distinção que os teólogos medievais vão fazer entre um amor <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> que é<br />

<strong>de</strong>sinteressado, e um amor <strong>de</strong> concupiscência, que é egoísta, tem as suas raízes <strong>na</strong> distinção que Aristóteles<br />

fizera entre amiza<strong>de</strong>s aci<strong>de</strong>ntais e amiza<strong>de</strong> perfeita. As amiza<strong>de</strong>s aci<strong>de</strong>ntais são formas <strong>de</strong> amor construídas<br />

em função do prazer ou da utilida<strong>de</strong>, enquanto que a amiza<strong>de</strong> perfeita, própria do homem <strong>de</strong> bem, é a forma<br />

<strong>de</strong> amor em que os homens querem para os seus amigos o bem que querem para si próprios. Ver Ética a<br />

Nicómaco, Livro VIII, 1156 a6 e 1156 b1. Ver também, IMBACH, Ruedi e ATUCHA, Iñigo. Amours pluriels,<br />

col. «Points Essais», Paris, Ed. du Seuil, 2006, p. 299.<br />

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