Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />
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autor da <strong>na</strong>tureza, isto é, Deus, e por isso o mandamento: «Amarás ao Senhor<br />
teu Deus, etc.» se constitui como um dos primeiros mandamentos:<br />
<strong>Amor</strong> est affectio <strong>na</strong>turalis u<strong>na</strong> <strong>de</strong> quatuor. Notae sunt: non opus est nomi<strong>na</strong>re. Quod ergo<br />
<strong>na</strong>turale est, iustum qui<strong>de</strong>m foret primum omnium auctori <strong>de</strong>servire <strong>na</strong>turae. Un<strong>de</strong> et dictum est<br />
primum et maximum mandatum: Diliges Dominum Deum tuum (Mt, 23,37), etc. 43<br />
Contudo, a <strong>na</strong>tureza huma<strong>na</strong> é fraca e por este motivo em vez <strong>de</strong> amar a<br />
Deus, o homem começa por se amar a si próprio e é através <strong>de</strong> um processo,<br />
constituído por quatro graus, que vai ser conduzido até ao amor <strong>de</strong> Deus e<br />
através <strong>de</strong>ste amor até Deus.<br />
A teoria dos graus do amor formulada por Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong> Claraval parte <strong>de</strong> um<br />
conhecimento da psicologia huma<strong>na</strong>. S. Ber<strong>na</strong>rdo tem consciência da tendência<br />
egoísta que marca o ser humano e que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre se revelou como o gran<strong>de</strong><br />
problema a resolver pelos teólogos uma vez que esse egoísmo entra em<br />
confronto com os i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> uma religião como é o cristianismo que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o<br />
amor a Deus pressupõe um “<strong>de</strong>sprezo do eu” e uma “renúncia a si”. Em vez <strong>de</strong><br />
recusar este egoísmo esta forma do amor que é o amor do homem a si mesmo,<br />
Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong> Claraval integra-o no caminho que o amor do homem terá <strong>de</strong><br />
percorrer até se tor<strong>na</strong>r no amor a Deus.<br />
Assim o amor egoísta, o amor do homem a si mesmo constitui-se como o<br />
primeiro grau do amor, que S. Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong>sig<strong>na</strong> <strong>de</strong> amor car<strong>na</strong>l. Neste grau o<br />
homem, antes <strong>de</strong> amar qualquer coisa, ama-se a si mesmo. Mas ainda neste<br />
estado <strong>de</strong> uma existência animalesca, o amor começa a registar uma alteração<br />
que é introduzida pelo amor ao próximo. Com o amor ao próximo, o amor car<strong>na</strong>l e<br />
animalesco vai-se transformando no amor a Deus pois que como po<strong>de</strong> amar o<br />
próximo quem não o ama em Deus, e como po<strong>de</strong> alguém amar em Deus se não<br />
ama a Deus?<br />
Alioquin proximum pure diligere quomodo potest, qui in Deo non diligit? Porro in Deo<br />
diligere non potest, qui Deum no diligit. Oportet ergo Deum diligi prius, ut in Deo diligi possit et<br />
proximus. 44<br />
43 BERNARDO DE CLARAVAL, Liber <strong>de</strong> diligendo Deo, VIII, 23.<br />
44 BERNARDO DE CLARAVAL, Liber <strong>de</strong> diligendo Deo, VIII, 25.<br />
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