Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Capítulo V – VITA NUOVA E A REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />
_______________________________________________________________________________________<br />
Em <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, <strong>Dante</strong> assume uma posição que o distancia do amor cortês<br />
e da poesia dos seus contemporâneos, para se aproximar da posição que se<br />
encontra nos teólogos.<br />
Tal como os autores que reflectiram sobre o amor divino, <strong>Dante</strong> consi<strong>de</strong>ra<br />
que a experiência amorosa <strong>de</strong>ve ser vivida <strong>de</strong> acordo com o conselho da razão. O<br />
apelo a este conselho surge em várias passagens <strong>de</strong> <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> 198 e fundamenta<br />
a distinção entre duas formas <strong>de</strong> amar: amar <strong>de</strong> acordo com o <strong>de</strong>sejo e amar <strong>de</strong><br />
acordo com o conselho da razão. O amor <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> por Beatriz é um amor que<br />
ocorre <strong>de</strong> acordo com o conselho da razão. O episódio que vai relacio<strong>na</strong>r,<br />
praticamente um ano <strong>de</strong>pois da morte <strong>de</strong> Beatriz, <strong>Dante</strong> a uma gentil dama que<br />
se sente atraída pelo seu sofrimento, é apresentado como um amor que ocorre<br />
fora do conselho da razão. É um amor que <strong>na</strong> própria obra é con<strong>de</strong><strong>na</strong>do<br />
porquanto obrigaria o sujeito afastar-se do verda<strong>de</strong>iro amor, daquele amor que é<br />
movido pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. Assim, enquanto que um amor que não tem em<br />
conta o conselho da razão é uma amor <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>do pelo apetite das coisas<br />
contingentes que lhe dão prazer, um amor que tem em conta o conselho da razão<br />
é um amor que <strong>de</strong>vido à intervenção da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgar inerente à razão é<br />
capaz <strong>de</strong> refrear o <strong>de</strong>sejo e <strong>de</strong> o orientar para uma dimensão que permite ao<br />
homem libertar-se das coisas contingentes e <strong>de</strong>sejar alcançar a felicida<strong>de</strong>.<br />
Enquanto amor que se realiza <strong>de</strong> acordo com o conselho da razão, o amor<br />
<strong>de</strong> <strong>Dante</strong> <strong>na</strong>rrado em <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> é um amor discretus, facto que se o distancia<br />
dos seus contemporâneos e dos cânones do amor cortês, aproxima-o das<br />
reflexões dos filósofos e dos teólogos, tal como já o havia aproximado o facto <strong>de</strong><br />
ser ordi<strong>na</strong>tio dilectio, um amor or<strong>de</strong><strong>na</strong>do.<br />
Os graus do amor em <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong><br />
A teoria dos graus do amor que constituiu, um dos lugares especulativos da<br />
reflexão sobre o amor realizada durante a Ida<strong>de</strong> Média, e permitiu aos teóricos da<br />
altura construir a resposta à questão <strong>de</strong> saber se o amor humano, forma<br />
imperfeita <strong>de</strong> amor, po<strong>de</strong> evoluir até uma forma mais perfeita e verda<strong>de</strong>ira que é o<br />
198 Mais uma vez se remete para a abordagem feita no capítulo IV intitulada, «<strong>Sobre</strong> o sujeito do amor. Do<br />
modo como se ama».<br />
97