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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo V – VITA NUOVA E A REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

erano di più lunga eta<strong>de</strong>; e passando per u<strong>na</strong> via, volse li occhi verso quella parte ov’io era molto<br />

pauroso, e per la sua ineffabile cortesia, la qualle è oggi meritata nel gran<strong>de</strong> secolo, mi salutoe<br />

molto virtuosamente, tanto che me parve allora ve<strong>de</strong>re tutti li termini <strong>de</strong> la beatitudine 183 .<br />

A concepção <strong>de</strong> amor como <strong>de</strong>sejo constituiu um dos lugares especulativos<br />

que domi<strong>na</strong>ram a reflexão que os teólogos realizaram sobre o amor. O <strong>de</strong>sejo<br />

como componente do amor correspondia ao sentido da essência da mensagem<br />

cristã, alicerçada <strong>na</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> circularida<strong>de</strong>: criações do amor <strong>de</strong> Deus, era pelo<br />

amor a Deus que os homens po<strong>de</strong>riam regressar ao seu lugar <strong>de</strong> origem. Para<br />

Santo Agostinho caritas era a forma <strong>de</strong> amor que tendo Deus como objecto do<br />

<strong>de</strong>sejo é capaz <strong>de</strong> elevar o humano até ao divino 184 . Da reflexão teológica nem<br />

mesmo a noção <strong>de</strong> prazer se encontrava ausente. Um autor como Hugo <strong>de</strong> Saint<br />

Victor escreve:<br />

Igitur vi<strong>de</strong>tur amor et amor est <strong>de</strong>lectatio cordis alicuius ad aliquid propter aliquid.<br />

Desi<strong>de</strong>rium in appetendo, et in perfruendo gaudium; per <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rium currens, requiescens per<br />

gaudium 185 .<br />

Para os teólogos o amor conduzia o homem à contemplação <strong>de</strong> Deus, e<br />

<strong>de</strong>sta vivência resultava um estado <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong> Claraval no Liber<br />

<strong>de</strong> diligendo Deo <strong>de</strong>screvia <strong>de</strong>ste modo o «encontro» do homem com Deus:<br />

Beatum dixerum et sanctum, cui tale aliquid in hac mortali vita raro interdum, aut vel<br />

semel, et hoc ipsum raptim atque unius vix momenti spatio, esperiri do<strong>na</strong>tum est. Te enim<br />

quodammodo per<strong>de</strong>re, tamquam qui non sis, et omnino nonsentire teipsum, et a te ipso exi<strong>na</strong>niri,<br />

et paene annullari, caelestis est conversationis, non huma<strong>na</strong>e affectionis 186 .<br />

A escolha <strong>de</strong>sta passagem <strong>de</strong> S. Ber<strong>na</strong>rdo preten<strong>de</strong> chamar a atenção<br />

para a semelhança com o texto <strong>de</strong> <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> atrás apresentado e no qual se<br />

pretendia ilustrar o estado <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> a que o amante era conduzido <strong>na</strong><br />

sequência da realização do seu <strong>de</strong>sejo.<br />

183<br />

DANTE. <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, Cap.III, 1,p.35-36.<br />

184<br />

NYGREN, An<strong>de</strong>rs. Eros e Agape, Bolog<strong>na</strong>, Ed. Dehoniane Bolog<strong>na</strong>, 1990, p. 482.570.<br />

185<br />

HUGO DE S .VICTOR. De Substantia Dilectionis, in Six Opuscules Spirituels, col. «Sources Chrétiennes»,<br />

Paris, Ed. du Cerf, 1969, p. 86.<br />

186<br />

BERNARDO DE CLARAVAL. De diligendo Deo, X.27.<br />

88

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