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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo IV – O AMOR NA VITA NUOVA DE DANTE ALIGHIERI<br />

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<strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, enquanto texto que tem como tema central o amor, ainda que se trate<br />

<strong>de</strong> um amor vivido <strong>na</strong> primeira pessoa, percebe esse amor usando as principais<br />

categorias a que os teólogos medievais haviam recorrido para perceber e explicar<br />

o amor divino.<br />

Feito este parêntesis é altura <strong>de</strong> se regressar à obra <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> a fim <strong>de</strong><br />

concentrar a atenção no sujeito que é amado: Beatriz.<br />

No contexto da obra <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> <strong>Alighieri</strong> ao nome <strong>de</strong> Beatriz surge<br />

associado um simbolismo que faz com que exista uma tendência a ver nesta<br />

figura femini<strong>na</strong> uma mera criação poética <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>. <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> não escapa a esta<br />

tendência e é interessante, a este respeito, o trabalho <strong>de</strong> Étienne Gilson, <strong>Dante</strong> et<br />

la philosophie 141 , on<strong>de</strong> este estudioso do pensamento medieval <strong>de</strong>smitifica os<br />

diferentes simbolismos associados a Beatriz. Para este, a Beatriz da obra <strong>de</strong><br />

<strong>Dante</strong> é sustentada por uma figura histórica real: Bice Porti<strong>na</strong>ri, filha <strong>de</strong> Folco<br />

Porti<strong>na</strong>ri e <strong>de</strong> Cilia Caponsacchi, florenti<strong>na</strong>, segunda mulher <strong>de</strong> Simone <strong>de</strong> Bardi,<br />

que <strong>Dante</strong> encontrou, e que morreu em Junho <strong>de</strong> 1290. Esta figura histórica, Bice<br />

Porti<strong>na</strong>ri, que Étienne Gilson curiosamente <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong> <strong>de</strong> “Infra-Beatriz”, e da qual<br />

pouco mais se sabe para além do que atrás foi referido, foi transfigurada por<br />

<strong>Dante</strong> dando origem à Beatriz que encontramos <strong>na</strong>s obras <strong>de</strong>ste autor e à qual se<br />

refere <strong>na</strong>s pági<strong>na</strong>s <strong>de</strong> <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong> como «gloriosa dama», «gentilíssima criatura»,<br />

«gentilíssima amada». Para Étienne Gilson é Beatriz, criação poética <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>,<br />

que <strong>de</strong>ve ser procurada <strong>na</strong> obra do autor florentino, não como pura i<strong>de</strong>alização,<br />

mas como uma pessoa real, que ele encontrou e por quem viveu um amor que<br />

nos surge contado em <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>.<br />

Beatriz, o sujeito amado em <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, é uma criação poética <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>,<br />

mas uma criação que é sustentada por uma existência concreta e real que é essa<br />

Bice Porti<strong>na</strong>ri que, curiosamente, surge referida uma única vez <strong>na</strong> obra, no soneto<br />

Io mi senti’ svegliar <strong>de</strong>ntro a lo core, incluído no capítulo XXIV. Por esta razão,<br />

serão colocados <strong>de</strong> lado todos os simbolismos que lhe são associados: uma<br />

vocação clerical, um intelecto agente, um imperador, ou o espiritualismo<br />

joaquimita 142 , para olhar Beatriz como o ser amado por <strong>Dante</strong>.<br />

141 Ver sobretudo o capítulo I on<strong>de</strong> Étienne Gilson se refere em concreto a <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>.<br />

142 GILSON, Étienne. <strong>Dante</strong> et la philosophie, Paris, J. Vrin, 1953, p. 54.<br />

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