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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo IV – O AMOR NA VITA NUOVA DE DANTE ALIGHIERI<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

experiência amorosa huma<strong>na</strong> por meio da sua aproximação, por via discursiva, a<br />

um domínio como o da Teologia.<br />

Ocorrido este primeiro encontro, a imagem <strong>de</strong> Beatriz passou a domi<strong>na</strong>r o<br />

pensamento <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> que, a partir <strong>de</strong>ste momento, ape<strong>na</strong>s tem um objectivo:<br />

procurar ver aquela angélica criatura, o que só ocorre passados nove anos após o<br />

primeiro encontro.<br />

O segundo encontro <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> com Beatriz é um encontro em que <strong>Dante</strong> vê<br />

e é visto por Beatriz. Esta surge entre duas gentis senhoras <strong>de</strong> maior ida<strong>de</strong> e ao<br />

entrar <strong>na</strong> rua voltou os olhos para on<strong>de</strong> estava <strong>Dante</strong> e saudou-o <strong>de</strong> um modo tão<br />

virtuoso que <strong>Dante</strong> julga-se transportado «aos últimos limites da beatitu<strong>de</strong>» 159 .<br />

Este encontro marca um momento importante da experiência amorosa que<br />

teve início <strong>na</strong> infância, porquanto é a partir daqui que <strong>Dante</strong> estabelece o fim a<br />

atingir, que é o <strong>de</strong> obter a saudação da mulher amada. É esta saudação que lhe<br />

permite a vivência da felicida<strong>de</strong> associada ao sentimento amoroso. É no capítulo<br />

XVIII que este entendimento acerca da experiência amorosa surge expresso<br />

claramente quando <strong>Dante</strong> respon<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta maneira à pergunta que lhe é feita por<br />

uma dama:<br />

Madonne, lo fine <strong>de</strong>l mio amore fue già lo saluto di questa don<strong>na</strong>, forse di cui voi inten<strong>de</strong>te,<br />

e in quello dimorava la beatitudine, ché era fine di tutti li miei <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rii 160 .<br />

A relação amorosa é experienciada <strong>de</strong> um modo avassalador por parte do<br />

sujeito. A visão da amada, e a vivência da felicida<strong>de</strong>, associada ao facto <strong>de</strong> ter<br />

recebido a saudação, têm sobre o amante efeitos <strong>de</strong>vastadores. <strong>Dante</strong> fala <strong>de</strong> um<br />

«estremecimento <strong>de</strong> olhos» e da perda do domínio do próprio corpo «que se<br />

movia qual coisa inerte e i<strong>na</strong>nimada»; fala ainda da sua condição fraca e débil<br />

que atrai a atenção dos seus melhores amigos. Contudo, e apesar do estado<br />

lamentável em que se encontra perante a visão da amada, não consegue <strong>de</strong>ixar<br />

<strong>de</strong> continuar a procurar vê-la, dado que a imagi<strong>na</strong>ção da sua beleza <strong>de</strong>strói <strong>na</strong><br />

sua memória todo o sofrimento que passou. E assim, animado por um<br />

pensamento que não é senão pensamento «que falava» da amada, movido por<br />

um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver <strong>de</strong> novo a sua gentil dama, lança-se <strong>na</strong> procura que afi<strong>na</strong>l só<br />

159 DANTE. <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, Cap. III, 2, p. 36.<br />

160 DANTE. <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, Cap. XVIII, 4, p. 111.<br />

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