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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

coloca-se no plano dos homens e do amor enquanto «res universalis». 31<br />

Tradução <strong>de</strong>sta humanização é a sua visão <strong>de</strong> caritas como amor honestus, puro<br />

amor, em função do qual todas as coisas <strong>de</strong>vem ser realizadas como o comer, o<br />

dormir ou o casar.<br />

De Santo Agostinho encontramos também ecos em Hugo <strong>de</strong> S. Victor. A<br />

pergunta sobre o que é o amor é explicitamente colocada por este autor 32 , bem<br />

como a resposta: Igitur vi<strong>de</strong>tur amor et amor est <strong>de</strong>lectatio cordis alicuius ad<br />

aliquid propter aliguid 33 . O amor é um movimento do coração quando alguém se<br />

liga a um objecto por qualquer motivo. No amor encontra o autor o <strong>de</strong>sejo e a<br />

alegria. Pelo <strong>de</strong>sejo aquele que ama é atraído para o objecto do seu amor,<br />

enquanto que a fruição <strong>de</strong>sse objecto o leva a sentir alegria. Daí que no amor não<br />

veja Hugo <strong>de</strong> S. Victor qualquer mal, nem <strong>na</strong>quele que ama, nem <strong>na</strong>quele que é<br />

amado. Contudo, o amor po<strong>de</strong> ser causa do mal e tal acontece quando o homem<br />

ama mal, quando ama aquilo que não po<strong>de</strong> ser amado, quando o amor é<br />

cupiditas, em vez <strong>de</strong> ser caritas.<br />

Membro também da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cister, Aelredo <strong>de</strong> Rievaulx (1110 – 1167)<br />

po<strong>de</strong> ser apresentado como um outro exemplo do modo como a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

amor como <strong>de</strong>sejo se foi uma linha comum aos teólogos medievais, por outro lado<br />

foi adquirindo matizes diferentes consoante os autores que a foram assumindo.<br />

Para Aelredo há um amor que surge ape<strong>na</strong>s <strong>de</strong> um sentimento <strong>de</strong><br />

atracção; um outro que surge a partir da razão quando a vonta<strong>de</strong> se lhe junta;<br />

fi<strong>na</strong>lmente uma terceira forma <strong>de</strong> amor que resulta da soma <strong>de</strong>stes três<br />

elementos: sentimento <strong>de</strong> atracção, razão e vonta<strong>de</strong>. O primeiro amor é áspero<br />

mas fecundo, o segundo é doce mas perigoso, o terceiro reúne os aspectos<br />

positivos <strong>de</strong>stes dois uma vez que é uma forma <strong>de</strong> amor doce e fecunda, que<br />

permite à própria razão saborear 34 .<br />

Com Aelredo <strong>de</strong> Rievaulx a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> amor como <strong>de</strong>sejo surge-nos<br />

relacio<strong>na</strong>da com a razão e a vonta<strong>de</strong> e há implícita <strong>na</strong> valorização que faz da<br />

31<br />

ABELARDO. Carta 24 :«Scias quia licet res universalis sit amor», apud J. MEWS, Constant, La Voix<br />

d’Heloise, col. «Vestigia», Paris, Ed. du Cerf, 2001, p. 207.<br />

32<br />

HUGO DE S. VICTOR. De substancia dilectionis, in Six opuscules spirituels, col. « Sources chrétiennes»,<br />

Paris, Ed. du Cerf, 1969, p. 86.<br />

33<br />

I<strong>de</strong>m, ibi<strong>de</strong>m, p. 87.<br />

34<br />

«… dans le troisième genre, on l’ aime, non point parce qu’ ill serait doux <strong>de</strong> l’ aimer, mais qu’ ill mérite d’<br />

être aimé; et c’ est parce qu’ ill mérite d’ être aimé, qu’ ill est doux <strong>de</strong> l’ aimer» HUGO DE S. VICTOR. Le<br />

miroir <strong>de</strong> la charité, III, 48. Apud FOLLOW, Jacques et McEVOY, James. Sagesses <strong>de</strong> l’ amitié II, col.<br />

«Vestigia», Paris, Ed. du Cerf, 2003, p. 250.<br />

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