Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
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Capítulo IV – O AMOR NA VITA NUOVA DE DANTE ALIGHIERI<br />
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acção do intelecto agente é feita i<strong>de</strong>ia pura, “che s’inten<strong>de</strong>”, e que se imprime no<br />
intelecto possível.<br />
Mas <strong>Dante</strong> acrescenta à visão um outro elemento fundamental no<br />
<strong>de</strong>spertar do sentimento amoroso como se po<strong>de</strong> ver pela análise do soneto<br />
<strong>Amor</strong>e e ’lcor gentil sono u<strong>na</strong> cosa que surge no capítulo XX <strong>de</strong> <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>:<br />
<strong>Amor</strong>e e ’l cor gentil sono u<strong>na</strong> cosa,<br />
sì come il saggio in suo dittare pone,<br />
e così esser l’un sanza l’altro osa<br />
com ’alma razio<strong>na</strong>l sanza ragione.<br />
Falli <strong>na</strong>tura quand’è amorosa,<br />
<strong>Amor</strong> per sire e ’l cor per sua magione,<br />
<strong>de</strong>ntro la qual dormendo si riposa<br />
tal volta poca e tal lunga stagione.<br />
Bieltate appare in saggia don<strong>na</strong> pui,<br />
che piace a li occhi sì, che <strong>de</strong>ntro al core<br />
<strong>na</strong>sce un disio <strong>de</strong> la cosa piacente;<br />
e tanto dura talora in costui,<br />
che fa svegliar lo spirito d’<strong>Amor</strong>e.<br />
E simil face in don<strong>na</strong> omo valente. 105<br />
O sábio a que faz referência no segundo verso é Guido Guinizelli que no<br />
soneto “Al cor gentil repara sempre <strong>Amor</strong>e” <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ra a co<strong>na</strong>turalida<strong>de</strong> do amor e<br />
do coração gentil. Tal como o pássaro que se protege no meio da verdura, assim<br />
o <strong>Amor</strong> se protege num coração gentil, nem o <strong>Amor</strong> <strong>na</strong>sceu primeiro que o<br />
coração gentil nem o coração gentil <strong>na</strong>sceu primeiro que o <strong>Amor</strong>, segundo Guido<br />
Guinizelli, <strong>na</strong>sceram ao mesmo tempo. Esta mesma <strong>de</strong>pendência é <strong>de</strong>fendida por<br />
<strong>Dante</strong> no soneto apresentado quando parte da comparação da relação que existe<br />
entre a alma racio<strong>na</strong>l e a inteligência, com a relação que existe entre o amor e o<br />
coração gentil. Assim como a alma racio<strong>na</strong>l e a inteligência não po<strong>de</strong>m existir<br />
uma sem a outra, diz-nos, assim o <strong>Amor</strong> não po<strong>de</strong> existir sem um “coração gentil”,<br />
só este po<strong>de</strong> ser “mansão do <strong>Amor</strong>”.<br />
Para <strong>Dante</strong>, a origem do sentimento amoroso se por um lado está<br />
associada à visão da figura da mulher amada, por outro lado, pressupõe uma<br />
105 DANTE. <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, XX, 3-5, p. 133-135.<br />
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