Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
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Capítulo I – O PROBLEMA DO AMOR NA IDADE MÉDIA<br />
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permite passar da imperfeição à perfeição. Neste sentido, em Aristóteles, o amor<br />
transforma-se numa força cósmica, i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>senvolvida durante a Ida<strong>de</strong> Média 11 .<br />
Quanto a Platão, até ao século XV, ape<strong>na</strong>s três obras estavam disponíveis<br />
em latim, o Timeu, o Menon e o Fedon 12 . Será ape<strong>na</strong>s no Re<strong>na</strong>scimento e pela<br />
mão dos humanistas que se assiste à tradução dos diálogos platónicos on<strong>de</strong><br />
surgem tratados os temas do amor e da amiza<strong>de</strong>. Contudo, o conhecimento da<br />
filosofia platónica, no que ao amor diz respeito, não parece ter sido impossível 13 ,<br />
ainda que se tratasse <strong>de</strong> um conhecimento feito por via indirecta, através dos<br />
neoplatónicos como Plotino e Porfírio cujo pensamento influenciou sobretudo a<br />
corrente dos filósofos místicos do século XII como Guilherme <strong>de</strong> S. Thierry e<br />
Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong> Claraval.<br />
As principais sínteses sobre o amor divino<br />
Os nomes <strong>de</strong> Pierre Rousselot e <strong>de</strong> An<strong>de</strong>rs Nygren, continuam a ser as<br />
principais referências quando se procura ter uma visão sistematizada sobre o<br />
modo como a problemática do amor divino foi tratada ao longo da Ida<strong>de</strong> Média.<br />
Em 1933, é editada a obra <strong>de</strong> Rousselot Pour l’histoire du problème <strong>de</strong> l’amour au<br />
Moyen Âge 14 , enquanto que em 1955 surge a edição origi<strong>na</strong>l da obra Eros e<br />
Ágape <strong>de</strong> Nygren 15 .<br />
Para Pierre Rousselot toda a reflexão que durante a Ida<strong>de</strong> Média se realizou<br />
sobre o amor divino se realizou em torno da resposta à questão: Po<strong>de</strong> o homem<br />
amar a Deus mais do que a si mesmo? E para Rousselot 16 as doutri<strong>na</strong>s que os<br />
teólogos medievais <strong>de</strong>senvolveram po<strong>de</strong>m ser organizadas em duas concepções:<br />
a concepção física do amor e a concepção extática do amor. Para a primeira o<br />
amor é entendido como um apetite <strong>na</strong>tural manifestado por todos os seres da<br />
11 No Capítulo II esta i<strong>de</strong>ia será explorada a partir da referência aos teólogos <strong>de</strong> século XII.<br />
12 De acordo com J. Follow e J. McEvory, o Timeu era usado <strong>na</strong>s escolas do século XII, enquanto que o<br />
Menon e o Fédon tinham sido traduzidos antes <strong>de</strong> 1160 mas as traduções foram pouco copiadas. Sagesses<br />
<strong>de</strong> l’ Amitié II, Cerf, p. 54. Cf, FOLLOW, Jacques e McEVOY, James. Sagesses <strong>de</strong> L’ Amitié II, col.<br />
«Vestigia», Paris, Editions du Cerf, 2003, p.54.<br />
13 Num artigo publicado <strong>na</strong> internet intitulado “Riflessioni sul platonismo di <strong>Dante</strong> ed il suo influsso sulla<br />
Letteratura <strong>de</strong>l quattrocento italiano” http://www.bibliomanie.it/dante_platonico.htm. 8-12-2008, Marco Errani,<br />
da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bolonha, partindo das “Confissões” <strong>de</strong> Santo Agostinho coloca a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santo<br />
Agostinho ter lido o Fédon e sobretudo o Banquete.<br />
14 ROUSSELOT, Pierre. Pour l’histoire du problème <strong>de</strong> l’ amour au Moyen Âge, Paris, Jean Vrin, 1981.<br />
15 NYGREN, An<strong>de</strong>rs. Eros et Agape, Bolog<strong>na</strong>, Edizione Dehoniane Bolog<strong>na</strong>, 1990.<br />
16 ROUSSELOT, Pierre.Pour l’histoire du problème <strong>de</strong> l’amour au Moyen Âge, Paris, Jean Vrin, 1981, p. 3-4.<br />
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