25.06.2013 Views

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

cantamos o «cântico dos <strong>de</strong>graus». É o Vosso fogo, o Vosso fogo benfazejo que nos consome<br />

enquanto vamos e subimos para a paz <strong>de</strong> Jerusalém celeste. «Regozijei-me com aquilo que me<br />

disseram: iremos para a casa do Senhor». Lá nos colocará a «boa vonta<strong>de</strong>» para que <strong>na</strong>da mais<br />

<strong>de</strong>sejemos senão permanecer ali eter<strong>na</strong>mente. 28<br />

Séculos mais tar<strong>de</strong>, Guilherme <strong>de</strong> S. Thierry (n. 1080-85 – m. 1148), <strong>na</strong><br />

obra De <strong>na</strong>tura et dignitate amoris fará eco <strong>de</strong>sta imagem quando nos apresenta<br />

o amor como uma força, que tal como uma força <strong>na</strong>tural, atrai a alma para o lugar<br />

do seu <strong>na</strong>scimento e para o fim que lhe é próprio e que é Deus.<br />

Ipse enim amor a Creatore inditus, nisi <strong>na</strong>turalis ejus ingenuitas adulterinis aliquibus<br />

affectibus praepedita fuerit; ipse, inquam, se docet, sed docibiles sui, docibiles Dei (Jn 6, 45). Est<br />

quippe amor vis animae <strong>na</strong>turali quodam pon<strong>de</strong>re ferens eam in locum vel finem suum. Omnis<br />

enim creatura sive spiritualis, sive corporea, et certum habet locum quo <strong>na</strong>turaliter fertur, et<br />

<strong>na</strong>turale quoddam pondus quo fertur. Pondus enim, ut ait quidam vere philosophus, non semper<br />

fert ad ima: ignem sursum, aquam <strong>de</strong>orsum, sic et <strong>de</strong> ceteris. Nam et hominem agit pondus suum,<br />

<strong>na</strong>turaliter spiritum ferens sursum, corpus <strong>de</strong>orsum, unumquodque in locum vel finem suum. Quis<br />

enim corporis locus? Terra, inquit, es, in terram ibis» (Gn 3,19). De spiritu vero in libro Sapientae:<br />

«et revertetur, inquit spiritus ad eum qui creavit eum (Ecele 12, 7). 29<br />

Também da obra <strong>de</strong> Agostinho e da sua concepção <strong>de</strong> amor como força<br />

que atrai encontramos eco em Pedro Abelardo. O amor é apresentado pelo<br />

filósofo como uma certa força da alma que não existe por si mesma, nem está<br />

contida em si mesma, mas que ten<strong>de</strong> para outro com um certo apetite e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

tal modo que <strong>de</strong> duas vonta<strong>de</strong>s distintas resulta uma unida<strong>de</strong> sem qualquer<br />

diferença 30 .<br />

Se <strong>de</strong> Santo Agostinho, Abelardo herda a concepção <strong>de</strong> amor como força<br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, distancia-o aquilo a que se po<strong>de</strong>rá chamar uma certa humanização<br />

da caritas <strong>na</strong> medida em que, o amor, para Abelardo, é uma força que une entre<br />

si os homens. Enquanto Santo Agostinho havia valorizado a caritas como amor<br />

que tem como objecto do seu <strong>de</strong>sejo Deus, Abelardo, influenciado por Cícero,<br />

28<br />

AGOSTINHO, Confissões, Livro XIII. 9. Trad. J. Oliveira Santos e A. Ambrósio <strong>de</strong> Pi<strong>na</strong>, Porto, Livraria<br />

Apostolado <strong>de</strong> Imprensa, 1977, p. 363.<br />

29<br />

Apud IMBACH, Ruedi e ATUCHA, Iñigo. Amours Pluriels, ed. cit., p. 32.<br />

30<br />

«(…) cum ita me i<strong>de</strong>m amor imperio suo subiecerit, ut non extranea res, sed multum familiaris et domestica,<br />

immo intesti<strong>na</strong> vi<strong>de</strong>atur. Est igitur amor, vis quedam anime non per se existens nec seipsa contenta, sed<br />

semper cum quodam appetitu et <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rio se in alterum transfun<strong>de</strong>ns, et cum altero i<strong>de</strong>m effici volens, ut <strong>de</strong><br />

duabus diversis voluntalibus quid indifferenter efficiatur», Apud, J.MEWS, Constant. La Voix d’Heloise, col.<br />

«Vestigia», Paris, Ed. du Cerf, 2001, p. 206.<br />

20

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!