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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

Este amor a Deus, necessário no amor ao próximo, não é uma forma <strong>de</strong><br />

amor perfeita, não é caritas porque é ainda uma forma <strong>de</strong> amor domi<strong>na</strong>da pelo<br />

interesse, porque o homem recorre a Deus ape<strong>na</strong>s quando sofre atribulações e<br />

angústias. O segundo grau do amor é aquele em que o homem ama a Deus, por<br />

si mesmo, e não por Deus. Deus é amado porque é d’Ele que o homem recebe a<br />

salvação quando é confrontado com os seus problemas e quando Lhe dirige<br />

súplicas que Ele aten<strong>de</strong>. Da experiência contínua <strong>de</strong>sta bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus vai<br />

brotar uma forma diferente <strong>de</strong> O amar, aquela em que Deus já não é amado por<br />

causa do homem mas é amado em Si mesmo. Entra-se assim no terceiro grau do<br />

amor, aquele em que o homem ama a Deus não porque Deus é bom para ele,<br />

mas pelo próprio Deus.<br />

Félix qui meruit ad quartum usque pertingere, quatenus nec seipsum diligat homo misi<br />

propter Deum. 45<br />

É com estas palavras que S. Ber<strong>na</strong>rdo inicia a abordagem do quarto grau do<br />

amor, aquele em que o homem se ama a si mesmo por Deus. Neste último grau<br />

S. Ber<strong>na</strong>rdo recupera o egoísmo <strong>na</strong>tural do ser humano e transmuta-o num amor<br />

divino ao consi<strong>de</strong>rar que o homem ao amar-se a si mesmo o <strong>de</strong>ve fazer, não por<br />

si, não para si, mas por Deus, e para Deus. Quando tal acontece o egoísmo <strong>de</strong>ixa<br />

<strong>de</strong> ser uma forma <strong>de</strong> amor interessada, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong> algum modo, egoísmo<br />

porque há paradoxalmente um esquecimento <strong>de</strong> si e uma purificação da sua<br />

vonta<strong>de</strong>. «Sic affici, <strong>de</strong>ificari est» 46 , «chegar lá [alcançar esse ponto] é já estar<br />

<strong>de</strong>ificado», o que conclui sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o amor humano se transformar<br />

num amor divino e sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse amor o conduzir a Deus.<br />

Po<strong>de</strong> ser dito que no século XIII o tema da relação entre o amor mundano e<br />

o amor divino surge tratado <strong>de</strong> um modo diferente num autor como S. Tomás <strong>de</strong><br />

Aquino.<br />

Foi já referido que a teoria do amor <strong>de</strong> S. Tomás <strong>de</strong> Aquino se <strong>de</strong>senvolve<br />

em dois planos distintos: um plano <strong>na</strong>tural pelo qual o amor inserido no âmbito no<br />

âmbito <strong>de</strong> uma teoria sobre o apetite surgia como um fenómeno que se<br />

manifestava em toda a <strong>na</strong>tureza; por outro lado, a um nível ético pelo qual este<br />

45 BERNARDO DE CLARAVAL, Liber <strong>de</strong> diligendo Deo, X, 27.<br />

46 BERNARDO DE CLARAVAL, Liber <strong>de</strong> diligendo Deo, X, 28.<br />

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