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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

amor que para além <strong>de</strong> amar os objectos que <strong>de</strong>vem ser amados, ama cada um<br />

<strong>de</strong>les <strong>na</strong> medida do seu amor, isto é, cada objecto merecedor <strong>de</strong> ser amado<br />

recebe o amor correspon<strong>de</strong>nte ao seu valor.<br />

É aqui que «ordi<strong>na</strong>ta dilectio» e «amor discretus» confluem para se<br />

constituírem como dois pontos importantes que enriqueceram as especulações<br />

realizadas pelos teólogos medievais a respeito do amor.<br />

Com efeito, a avaliação do objecto do amor, implícita no conceito <strong>de</strong> amor<br />

or<strong>de</strong><strong>na</strong>do, vai implicar uma intervenção da inteligência, da razão, e um autor que<br />

po<strong>de</strong> ser apresentado para ilustrar este aspecto é Aelredo <strong>de</strong> Rievaulx.<br />

Numa passagem do seu livro intitulado Speculum Caritatis 56 este autor<br />

pe<strong>de</strong> que se imagine a seguinte situação: duas pessoas, uma doce, extrovertida,<br />

agradável, mas menos perfeita em algumas virtu<strong>de</strong>s; outra mais virtuosa porém<br />

menos agradável, mais severa, mais sombria, mais introvertida. A nossa<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar, diz-nos Aelredo, sentir-se-á imediatamente atraída pela<br />

primeira, enquanto que pela segunda necessita da intervenção da razão. É a<br />

razão que permitirá proce<strong>de</strong>r a uma correcta avaliação do objecto e <strong>de</strong>ste modo<br />

orientar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar, <strong>de</strong> modo a que o amor seja bem or<strong>de</strong><strong>na</strong>do, isto é,<br />

para que o homem ame aquilo que <strong>de</strong>ve ser amado, não se <strong>de</strong>ixando influenciar<br />

nem pela vonta<strong>de</strong> nem pelo capricho, mas respeitando o valor intrínseco do<br />

próprio objecto do amor.<br />

Mas para o teólogo medieval o papel a atribuir à razão no contexto do amor<br />

po<strong>de</strong> ser outro que não o da avaliação do objecto. Com efeito, e apesar <strong>de</strong>sta ser<br />

uma i<strong>de</strong>ia encontrada com alguma frequência no contexto das reflexões<br />

realizadas pelos teólogos, se se tiver em conta um autor como Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong><br />

Claraval, é-se confrontado com uma concepção diferente acerca do papel que<br />

cabe à razão no contexto <strong>de</strong> uma teoria do amor. Esta é a opinião <strong>de</strong> Charles<br />

Baladier <strong>na</strong> sua obra Érôs au Moyen Âge 57 e baseando-se nos Sermões 49 e 50<br />

escritos pelo monge cistercense sobre o Cântico dos Cânticos, mostra como, para<br />

Ber<strong>na</strong>rdo <strong>de</strong> Claraval a razão, mais do que avaliar, vai ter a função <strong>de</strong> refrear os<br />

excessos <strong>de</strong>smesurados do amor. Partindo da análise não do verso que encerrou<br />

56 Cf. FOLLOW, Jacques e McEVOY. Sagesses <strong>de</strong> l’amitié II, col. «Vestigia», Paris, Ed. du Cerf, 2003, p.249<br />

57 Ver sobretudo p. 55-58<br />

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