Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri
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Capítulo V – VITA NUOVA E A REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />
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mais perfeita do homem amar e portanto o género <strong>de</strong> amor que <strong>de</strong>ve ser o amor<br />
do homem a Deus: um amor espontâneo, incondicio<strong>na</strong>l, ilimitado e imotivado. A<br />
segunda dicotomia, entre amor <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e amor <strong>de</strong> concupiscência tem, <strong>na</strong><br />
obra <strong>de</strong> S. Tomás, um dos melhores esclarecimentos. Para S. Tomás, o amor <strong>de</strong><br />
amiza<strong>de</strong> apresenta-se como uma forma <strong>de</strong> amor em que o outro é amado em si<br />
mesmo, é por isso um amor orientado em função do sujeito objecto do amor; por<br />
sua vez, o amor <strong>de</strong> concupiscência é um amor orientado em função <strong>de</strong> um bem<br />
que alguém <strong>de</strong>seja para si, o outro é amado não em si mesmo, mas em função do<br />
bem que <strong>de</strong>sse amor resulta para o sujeito do amor 190 .<br />
Se tentarmos saber que género <strong>de</strong> amor é aquele que <strong>Dante</strong> vive por<br />
Beatriz em <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, a resposta po<strong>de</strong>rá revelar-se mais complexa do que se<br />
po<strong>de</strong>ria esperar, facto que <strong>de</strong>corre da experiência amorosa que nele é <strong>na</strong>rrada<br />
não ser, como atrás ficou mostrado, uma experiência homogénea.<br />
Efectivamente, é uma experiência que é atravessada por três momentos<br />
diferentes: saudação, louvação e contemplação <strong>de</strong> Deus. No primeiro momento<br />
<strong>Dante</strong> ama Beatriz consistindo este amor no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> obter da amada a<br />
saudação. Num segundo momento esse amor traduz-se em louvar a amada;<br />
fi<strong>na</strong>lmente, no terceiro momento, o amor da amada consiste no amor a Deus uma<br />
vez que a amada está no Empíreo. Se a vivência da experiência amorosa, em<br />
qualquer um dos três momentos significa a vivência <strong>de</strong> estados <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> por<br />
parte do amante, a verda<strong>de</strong> também é que não é esta vivência que constitui a<br />
razão <strong>de</strong> ser da relação amorosa. <strong>Dante</strong> ama não para ser feliz, mas é feliz<br />
porque ama Beatriz. O seu género <strong>de</strong> amor não é pois um amor <strong>de</strong><br />
concupiscência, mas um amor <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>. Beatriz é amada em si mesma.<br />
Este amor <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> que se encontra no primeiro momento da<br />
experiência amorosa e que é um amor humano, à medida que a obra se vai<br />
<strong>de</strong>senvolvendo vai per<strong>de</strong>ndo as marcas e os traços que caracterizam a paixão<br />
huma<strong>na</strong> <strong>de</strong> tal modo que no segundo momento, o momento do louvor, o amor se<br />
interioriza e espiritualiza. É talvez importante repetir aqui uma passagem <strong>de</strong> <strong>Vita</strong><br />
<strong>Nuova</strong> já apresentada:<br />
190 TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica, vol. III, q. 26, art. 4, ed. cit., p. 341-342.<br />
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