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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo IV – O AMOR NA VITA NUOVA DE DANTE ALIGHIERI<br />

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Sì lungiamente m’ha tenuto <strong>Amor</strong>e<br />

e costumato a la sua segnoria,<br />

che sì com’elli m’era forte in pria,<br />

così mi sta soave ora nel core. 171<br />

A relação <strong>de</strong> <strong>Dante</strong> com Beatriz vai per<strong>de</strong>ndo o traço <strong>de</strong> paixão huma<strong>na</strong> <strong>de</strong><br />

tal modo que, quando no capítulo XXIV a gentil dama se aproxima do amante, no<br />

último encontro que é registado <strong>na</strong> obra, a atmosfera é <strong>de</strong> uma “estranha<br />

estranheza”, sobretudo se forem levados em conta os momentos anteriores. Se<br />

antes <strong>de</strong> Beatriz aparecer há a sensação <strong>de</strong> tremor no coração <strong>de</strong> <strong>Dante</strong>, que a<br />

pré-anuncia, à semelhança do que ocorrera no último encontro, é com serenida<strong>de</strong><br />

que ele a vê aproximar-se e parar junto <strong>de</strong> si. <strong>Dante</strong> não se sente “<strong>de</strong>mudado”,<br />

não vive o ímpeto das emoções que marcaram o encontro registado no capítulo<br />

XIV. A experiência do amor já não é uma experiência física mas espiritual e<br />

interior; o amor já não é vivido como um sentimento ligado ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver a<br />

amada e ao prazer que <strong>de</strong>sta visão resulta, associado à obtenção da saudação,<br />

mas o amor é vivido como um sentimento relacio<strong>na</strong>do com um prazer espiritual<br />

baseado no louvor da dama pela palavra. Se antes a vivência do sentimento<br />

estava <strong>de</strong>slocalizada do sujeito porque <strong>na</strong> <strong>de</strong>pendência da amada, agora a<br />

vivência do sentimento amoroso é uma vivência autónoma, porquanto <strong>Dante</strong> já<br />

não precisa da visão e da saudação da amada para a amar e para sentir o amor:<br />

<strong>Dante</strong> sente o amor enquanto através da palavra, através do canto, louva Beatriz.<br />

A vivência do sentimento surge centrada, <strong>de</strong> um modo auto-suficiente, no amante,<br />

<strong>na</strong> sua interiorida<strong>de</strong>.<br />

Mas a morte <strong>de</strong> Beatriz vai trazer uma outra alteração.<br />

Da relação amorosa. 3º momento: a contemplação da amada<br />

Beatriz morre no mês <strong>de</strong> Junho do ano <strong>de</strong> 1290 <strong>Dante</strong> é interrompido <strong>na</strong><br />

composição da canção, Sì lungiamente m’ ha tenuto <strong>Amor</strong>e, pela notícia da sua<br />

morte que é anunciada ao leitor no capítulo XXVIII <strong>de</strong> <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>. A tristeza e a<br />

solidão inva<strong>de</strong>m o sujeito amoroso e são transpostas para o domínio do colectivo<br />

171 DANTE. <strong>Vita</strong> <strong>Nuova</strong>, cap. XXVII, 3, vv. 1-4, p. 188-189.<br />

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