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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

Em Hugo <strong>de</strong> S. Victor (1096-1141) encontramos ecos da posição <strong>de</strong> Santo<br />

Agostinho. Para este autor o amor, que <strong>de</strong>fine como um movimento do coração<br />

que é, pela sua <strong>na</strong>tureza, único e singular, quando se actualiza divi<strong>de</strong>-se em:<br />

cupiditas e caritas. Por cupiditas enten<strong>de</strong> Hugo <strong>de</strong> S. Victor um amor<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong><strong>na</strong>do e que é, para ele, origem <strong>de</strong> todo o mal que se associa ao amor<br />

uma vez que correspon<strong>de</strong> a “um amar mal” 52 ; caritas é um amor or<strong>de</strong><strong>na</strong>do.<br />

Enquanto amor or<strong>de</strong><strong>na</strong>do a caritas é um amor orientado para o interior e po<strong>de</strong> ter<br />

como objecto: Deus, o próximo e o mundo. Deus acima <strong>de</strong> nós, o próximo ao<br />

nosso lado, e o mundo abaixo <strong>de</strong> nós. A caritas bem or<strong>de</strong><strong>na</strong>da ocorre quando o<br />

movimento do amor tem origem a partir <strong>de</strong> Deus, se realiza com Deus e para<br />

Deus como seu objectivo: quando, em relação ao próximo o movimento do amor<br />

tem origem a partir <strong>de</strong>le e com ele mas nunca para ele; e fi<strong>na</strong>lmente em relação<br />

ao mundo, quando o movimento do amor é um movimento que tem origem a partir<br />

<strong>de</strong>le mas que nunca se realiza com ele nem para ele.<br />

Ordi<strong>na</strong>te ergo caritatem, ut per <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rium currat <strong>de</strong> Deo, cum Deo, in Deum; <strong>de</strong> proximo,<br />

cum proximo et non in proximum; <strong>de</strong> mundo, nec cum mundo, nec in mundum; et in solo Deo<br />

requiescat per gaudium. Haec est ordi<strong>na</strong>ta caritas, et praeter ipsam omne quod agitur non ordi<strong>na</strong>ta<br />

caritas est, sed inordi<strong>na</strong>ta cupiditas. 53<br />

Só em Deus o <strong>de</strong>sejo ligado ao amor encontra a alegria do repouso.<br />

Mas, como foi referido, a teoria do amor or<strong>de</strong><strong>na</strong>do que animou o <strong>de</strong>bate<br />

medieval em torno da questão do amor envolve uma outra faceta, não menos<br />

interessante, ligada à avaliação que o sujeito do amor tem que fazer do objecto a<br />

amar uma vez que, segundo a teoria do amor or<strong>de</strong><strong>na</strong>do, um objecto <strong>de</strong>ve ser<br />

amado no seu verda<strong>de</strong>iro valor, cabendo ao homem fazer a sua avaliação tendo<br />

em vista a medida do amor a ser experienciado.<br />

Para os teólogos medievais a <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>ção da medida era feita em função<br />

do “amor a si”, posição que fundamentavam em dois preceitos contidos no<br />

Evangelho <strong>de</strong> S. Mateus: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração,<br />

52 «Igitur nec qui amat malum est, nec quod amat malum est, nec amor quo amat malum est, sed quod male<br />

amat malum est, et hoc omne malum est.» HUGO DE S. VICTOR. De substantia dilectionis, II, 56, in, Six<br />

opuscules spirituels, col. « Sources Chrètiennes», Paris, Ed. du Cerf, 1969, p.86.<br />

53 HUGO DE S. VICTOR. De substantia dilectionis, IV,6, in, Six opuscules spirituels, col. «Sources<br />

chrétiennes», Paris, Ed. du Cerf, 1969, p.92.<br />

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