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Reflexões Sobre o Amor na Vita Nuova de Dante Alighieri

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Capítulo II – ALGUNS LUGARES ESPECULATIVOS DA REFLEXÃO TEOLÓGICA SOBRE O AMOR<br />

_______________________________________________________________________________________<br />

Ordi<strong>na</strong>ta dilectio e amor discretus<br />

Ah! Beija-me com ósculos da tua boca!<br />

Porque os teus amores são mais <strong>de</strong>liciosos que o vinho<br />

e suave é a fragrância dos teus perfumes;<br />

o teu nome é como perfume <strong>de</strong>rramado:<br />

Por isso te amam as donzelas.<br />

Leva-me atrás <strong>de</strong> ti; corramos!<br />

O rei introduziu-me nos seus aposentos.<br />

Exultaremos e nos alegraremos em ti.<br />

Cantaremos os teus amores mais suaves que o vinho.<br />

Quanta razão há para te amar! 49<br />

Foi o último verso do início do poema atribuído ao rei Salomão que veio dar<br />

origem a um dos lugares especulativos que mais marcaram a reflexão sobre o<br />

amor realizado pelos teólogos da Ida<strong>de</strong> Média e, particularmente, pelos teólogos<br />

do século XII.<br />

Consi<strong>de</strong>rado como um dado inscrito pela revelação, no poema dramático-<br />

idílico em que se canta e exalta o amor humano, o verso «Quanta razão há para<br />

te amar», traduzido pela Vulgata por «Ordi<strong>na</strong>vit in me caritatem» passou a ser<br />

entendido pela tradição como um duplo conselho intelectual dirigido ao acto <strong>de</strong><br />

amar próprio do homem, quer se trate do amor mundano quer se trate do amor a<br />

Deus. Por um lado, e relacio<strong>na</strong>do com o modo como o acto <strong>de</strong> amar se exerce,<br />

vai ser a afirmação <strong>de</strong> que o amor não é um afecto que <strong>de</strong>va ser <strong>de</strong>ixado ao<br />

acaso <strong>de</strong> uma espontaneida<strong>de</strong> irreflectida e <strong>de</strong>sarrazoável mas, que <strong>de</strong>ve ser<br />

penetrado pela inteligência, pela razão. O acto <strong>de</strong> amar <strong>de</strong>ve ser um acto <strong>de</strong><br />

discernimento, um acto regido pela razão – amor discretus. Por outro lado, e<br />

a<strong>na</strong>lisando o amor do ponto <strong>de</strong> vista do seu objecto, o conselho que os teólogos<br />

medievais extraíram do verso do Cântico dos Cânticos foi o <strong>de</strong> que nem todos os<br />

objectos, nem todas as coisas, <strong>de</strong>vem ser amadas, e <strong>de</strong> entre as que merecem<br />

ser amadas, umas merecem mais do que outras. Pelo que, tem <strong>de</strong> haver uma<br />

medida para o amor, este <strong>de</strong>ve ser or<strong>de</strong><strong>na</strong>do – ordi<strong>na</strong>ta dilectio.<br />

49 Bíblia Sagrada, Lisboa, Edições Verbo, 1976,p.757.<br />

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