A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Glaucia Villas Bôas<br />
Defesa do Folclore, cujas atividades tiveram início em 1958. Um dos objetivos<br />
da Comissão e, posteriormente, da campanha foi registrar as tradições populares<br />
em todo o território nacional, o que poderia explicar não só a quantidade<br />
de estudos sobre o tema, como a predominância de obras sobre as tradições<br />
populares de localidades ou regiões.<br />
Na realidade, o interesse pela cultura popular era então crescente, sendo<br />
observado não só na criação de instituições volta<strong>das</strong> para a pesquisa do<br />
folclore, mas também em manifestações, movimentos e organizações de<br />
setores estudantis, artísticos e literários, principalmente <strong>no</strong> final da década<br />
de 1950 e início dos a<strong>no</strong>s 1960. Os Centros Populares de Cultura, criados<br />
em 1961, são um exemplo disso. Seja <strong>no</strong> sentido de conhecer as “origens”<br />
<strong>das</strong> tradições populares brasileiras e buscar preservá-las, ou <strong>no</strong> sentido de<br />
“conscientizar” ou “politizar” as cama<strong>das</strong> populares, discutindo-se então o<br />
papel dos intelectuais frente a elas, fato é que a cultura <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> populares<br />
foi se destacando cada vez mais <strong>no</strong> rol <strong>das</strong> discussões dos intelectuais<br />
ao longo daqueles a<strong>no</strong>s. Na realidade, as transformações socioeconômicas<br />
não só modificavam as condições de vida <strong>das</strong> populações de baixa renda<br />
<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, como permitiam que despontassem <strong>no</strong> horizonte intelectual problemas<br />
relativos à participação daquelas cama<strong>das</strong> <strong>no</strong> processo econômico,<br />
social e político.<br />
No período aqui analisado, esse conjunto de estudos costumava ser de<strong>no</strong>minado<br />
<strong>no</strong> mais <strong>das</strong> vezes “folclore” e, com me<strong>no</strong>s freqüência, “cultura popular”.<br />
Julgamos mais adequado o termo “tradições populares” porque abrange diversas<br />
manifestações registra<strong>das</strong> <strong>no</strong>s estudos da amostra dessa pesquisa, já que os estudiosos<br />
nem sempre concordaram com a qualidade <strong>das</strong> manifestações defini<strong>das</strong><br />
pelo termo folclore, que para alguns <strong>no</strong>meava tão somente as len<strong>das</strong>, os contos e<br />
os mitos. Além disso, a identidade do folclore – ora objeto de estudo, ora ramo da<br />
antropologia, ora da história social, ora campo específico de estudos – é ponto de<br />
controvérsias, o mesmo ocorrendo com o termo “cultura popular” que adquiriu<br />
mais recentemente um caráter político, vindo representar a expressão da contestação<br />
ou resistência de grupos socialmente desprivilegiados. 48<br />
O quadro XVII revela a diversidade e quantidade dos estudos referentes a<br />
"tradições populares" realizados <strong>no</strong> período.<br />
48. Sobre o conceito de cultura popular, ver ORTIZ, Renato. A consciência fragmentada. In:___;<br />
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de; SIMSON, Olga R. M. von; MICELI, Sergio. Esboço de<br />
um projeto de investigação da produção cultural <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, São Paulo, n. 17, 1ª série, set. 1982. Cader<strong>no</strong>s<br />
CERU.<br />
102<br />
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 102 5/3/2009 09:48:35