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A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Os textos que abordam os movimentos ocorridos durante o Império revelam<br />

interesse sobretudo nas agitações revolucionárias que, <strong>no</strong> período regencial,<br />

mobilizaram cama<strong>das</strong> populares e repercutiram <strong>no</strong> país de <strong>no</strong>rte a sul.<br />

Espelham a oposição ao sistema fortemente centralizado, imposto pelas elites<br />

político-econômicas que tomaram o poder em 1822. 16 Apesar do interesse na<br />

reconstrução histórica desses movimentos, não se registram estudos sobre a<br />

Confederação do Equador, de 1824, ocorrida em Pernambuco, e a Sabinada,<br />

na Bahia, entre 1837 e 1838. Digna de <strong>no</strong>ta é a atenção dada à Revolução<br />

Praieira, objeto de quatro estudos <strong>no</strong> conjunto de 17 livros.<br />

Contudo, mais <strong>no</strong>tável ainda é que acontecimento de tamanha envergadura como<br />

a Abolição da Escravatura não tenha rastreado, <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da política, movimentos que<br />

a precederam, suas causas e repercussões, sendo objeto de apenas um trabalho. Da<br />

mesma forma, surpreende a ausência, <strong>no</strong> rol dos estudos selecionados, de relatos sobre<br />

a Guerra do Paraguai (1864-1870). Esse último episódio constitui um evento típico<br />

dos que fazem parte <strong>das</strong> historiografias políticas em geral. Entretanto, nem a longa<br />

duração do conflito, nem sua relação com a formação do exército brasileiro, nem a<br />

consciência que trouxe dos problemas advindos da escravidão parecem ter estimulado<br />

os historiadores, como não os motivou a criticar as conseqüências nefastas da guerra<br />

para a República do Paraguai. 17 É possível que a atitude de omissão dos historiadores<br />

com relação à Abolição e à Guerra do Paraguai se explique pelo fato de que a primeira,<br />

trazendo à memória um sistema de dominação reprovável, e a segunda, com suas<br />

conseqüências trágicas, não sejam vistas como fatos que prestigiem os feitos de uma<br />

classe política e exemplifiquem positivamente a construção da nação.<br />

Quanto à República, os eventos mais visados são a Campanha de Canudos, a<br />

Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932. A participação de<br />

militares em movimentos, revoltas e revoluções evidencia-se neste período.<br />

Quando são observados os acontecimentos políticos escolhidos pelos historiadores<br />

e sua seqüência cro<strong>no</strong>lógica (quadro VI), verifica-se haver entre<br />

eles uma relação cujo sentido é a construção política e geográfica do país. A<br />

escolha de tais eventos mostraria existir um interesse implícito por parte dos<br />

historiadores em registrar a história da conquista e da ocupação de terras, cuja<br />

condução fica sob a responsabilidade do Estado português e, em seguida, do<br />

Estado brasileiro. Este parece ser apreciado pelos especialistas do ponto de<br />

vista de sua habilidade em resolver problemas e obstáculos relativos à con-<br />

16. Ibidem, p. 8, 119-138.<br />

17. Sobre a Guerra do Paraguai cf. PRADO JR., Caio. História econômica do <strong>Brasil</strong>. 7 ed. São Paulo:<br />

<strong>Brasil</strong>iense, 1962. p. 182-183; SODRÉ, Nelson Werneck. Op. cit., p. 143-146; VIANNA, Hélio.<br />

História do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Melhoramentos, 1961. t. II, p. 197-199.<br />

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