A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />
compromissos da camada intelectual com os problemas do desenvolvimento<br />
e <strong>das</strong> desigualdades sociais ganharam tal relevância que chegaram a influir em<br />
iniciativas e empreendimentos, como a criação dos Centros Populares de Cultura,<br />
dos movimentos de alfabetização, <strong>no</strong> aparecimento do Cinema Novo,<br />
que não só trouxeram <strong>no</strong>vas perspectivas culturais, educacionais e intelectuais,<br />
como marcaram definitivamente os seus rumos. Os debates que se traduziam<br />
em seguida em ações efetivas davam vantagens às ciências sociais sobre outras<br />
formas de conhecimento, uma vez que, de certo modo, realçavam o caráter<br />
instrumental de seus estudos. Pois não se destinavam eles a ser um meio específico<br />
de compreensão dos fatos sociais, cujos resultados poderiam vir a<br />
ser utilizados na reformulação de idéias e na orientação da ação de grupos<br />
sociais? O sentido social que caracteriza a identidade <strong>das</strong> ciências sociais ia ao<br />
encontro de um <strong>no</strong>vo modo de encarar o sentido e a utilidade da produção<br />
cultural que se expandia naqueles a<strong>no</strong>s, por mais distintas que tenham sido as<br />
direções toma<strong>das</strong> pelos debates.<br />
A partir de meados da década de 1950, conjugaram-se, pois, quatro fatores<br />
favoráveis ao desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais: a ampliação do público<br />
universitário e letrado do país; a consolidação da indústria do livro; uma demanda<br />
de conhecimentos oriunda <strong>das</strong> mudanças que imprimiam uma <strong>no</strong>va<br />
feição à sociedade brasileira; e a consciência de que a produção cultural, <strong>no</strong>s<br />
seus mais diversos aspectos, poderia exercer um papel atuante na solução de<br />
problemas de ordem social e política.<br />
As circunstâncias histórico-sociais emergentes <strong>no</strong>s meados dos a<strong>no</strong>s 1950<br />
permitiram que as ciências sociais tivessem um lugar de maior relevo <strong>no</strong> conjunto<br />
da produção intelectual do país, do que na fase anterior. Tal posição resultava<br />
de um longo processo iniciado quando surgiram os primeiros estudos<br />
de autores brasileiros neste campo do saber e, a partir da década de 1930, o<br />
impulso dado pela formação de cientistas sociais nas Faculdades de Filosofia foi<br />
um passo decisivo para que, na década de 1950, a expansão <strong>das</strong> ciências sociais<br />
permitisse que elas aparecessem já com relevo <strong>no</strong> sistema de produção de bens<br />
culturais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, vindo a fazer parte importante dos debates intelectuais.<br />
2. A relevância dos problemas brasileiros<br />
Um dos traços que sobressai <strong>no</strong> conjunto da produção <strong>das</strong> ciências sociais,<br />
tal como analisada <strong>no</strong> segundo capítulo, é a importância dada pelos cientistas<br />
sociais e seus leitores a questões concretas da sociedade brasileira. Os<br />
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