A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />
namentais estiveram voltados para a acumulação de capitais indispensáveis<br />
para a industrialização do país, ainda que, de acordo com Sônia Mendonça, 9<br />
não mostrassem um propósito nitidamente “industrialista”. A crise de 1929<br />
e, logo a seguir, a Segunda Guerra Mundial restringiram as importações brasileiras<br />
e favoreceram uma política econômica que, em linhas gerais, buscava<br />
repassar o excedente do setor agroexportador para o setor industrial, através<br />
de mecanismos cambiais, a fim de obter financiamento exter<strong>no</strong>. Prevalecia,<br />
então, o interesse em manter sob o controle do Estado os setores básicos da<br />
indústria. Daí, surgem os projetos e a criação de grandes empresas estatais<br />
como a Cia. Siderúrgica Nacional, a Petrobras, a Cia. Vale do Rio Doce, a<br />
Cia. Nacional de Álcalis etc. Outra característica <strong>das</strong> medi<strong>das</strong> governamentais,<br />
segundo Francisco de Oliveira e Frederico Mazzucchelli, “residia numa contenção<br />
relativa do salário real dos trabalhadores, atenuada pela função que se<br />
assinava às empresas do Estado: produzir certos bens e, sobretudo, serviços<br />
abaixo do custo, transferindo em parte, por essa forma, poder de compra para<br />
os assalariados”. 10<br />
A segunda fase do processo de industrialização inicia-se sob a presidência<br />
de João Café Filho (1954/1955), e atinge seu ápice durante o gover<strong>no</strong> de Jusceli<strong>no</strong><br />
Kubitschek de Oliveira (1956/1960), entrando em crise logo a seguir,<br />
durante os gover<strong>no</strong>s de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961/1964).<br />
Nesse período, os centros capitalistas, refeitos dos pla<strong>no</strong>s de reconstrução do<br />
pós-guerra, adquiriram um grau de estabilidade econômica que os levava a<br />
buscar <strong>no</strong>vas oportunidades lucrativas de exportação de capitais. Entre outros<br />
fatores, o <strong>no</strong>vo contexto econômico internacional veio a influir na política<br />
econômica brasileira. A partir de 1955, o Estado redefine suas regras com<br />
vistas à industrialização. Em primeiro lugar, a <strong>no</strong>va política permite que se<br />
recorra abertamente ao capital estrangeiro, sob forma de investimento direto,<br />
de capital de risco. Naquele a<strong>no</strong>, ficou famosa a “instrução 113” da SUMOC<br />
– Superintendência da Moeda e do Crédito, que liberou os investimentos diretos<br />
de empresas estrangeiras. Ao mesmo tempo, a inflação passou a ser, por<br />
excelência, a forma de financiamento inter<strong>no</strong> do crescimento econômico, não<br />
havendo nenhum interesse dos diversos gover<strong>no</strong>s em tomar medi<strong>das</strong> fiscais<br />
ou cambiais redistributivas que atingissem as classes proprietárias e seus lucros.<br />
A segunda característica importante da política econômica, levada a cabo<br />
a partir de 1955, foi o incentivo dado ao setor de bens de consumo duráveis,<br />
9. Cf. MENDONÇA, Sônia Regina de. Op. cit., p. 23-24.<br />
10. Cf. OLIVEIRA, Francisco de; MAZZUCCHELLI, Frederico. Op. cit., p. 113-114.<br />
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