A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />
Minhas pesquisas chegaram ao resultado de que as relações jurídicas<br />
– assim como as formas de Estado – não podem ser compreendi<strong>das</strong><br />
nem por elas mesmas, nem pela pretendida evolução<br />
geral do espírito huma<strong>no</strong>, mas que ao contrário, têm suas raízes<br />
nas condições de existência material, as quais Hegel, a exemplo dos<br />
ingleses e dos franceses do século XVIII, compreende sob o <strong>no</strong>me<br />
de “sociedade civil” e que a anatomia da sociedade civil deve ser<br />
procurada por sua vez na eco<strong>no</strong>mia política. 32<br />
O uso dos termos eco<strong>no</strong>mia política e eco<strong>no</strong>mia varia de acordo com a<br />
trajetória disciplinar em distintos contextos históricos, institucionais e teóricos.<br />
No final do século XIX, questio<strong>no</strong>u-se a estreiteza do termo eco<strong>no</strong>mia<br />
política para uma disciplina que tratava <strong>das</strong> relações e da mudança da sociedade.<br />
O termo “eco<strong>no</strong>mia” foi consagrado por Alfred Marshall, em 1890, com<br />
a publicação de Principles of Eco<strong>no</strong>mics. Argumentou-se que a disciplina havia<br />
deixado de debater-se com problemas da política econômica e estabelecido<br />
um corpo de princípios e métodos, os quais levaram à nítida separação entre<br />
teoria e prática. 33 Edwin Seligman diz que a eco<strong>no</strong>mia “vem sendo e talvez<br />
continue a ser o campo de batalha de racionalizações de interesses de grupos<br />
e classes (...) Sofreu mais do que qualquer disciplina da enfermidade <strong>das</strong><br />
polêmicas sobre definição e método”. 34 Segundo o autor, mais apropriado é<br />
definir-se eco<strong>no</strong>mia – ele utiliza somente esse termo – como uma “disciplina<br />
científica que trata dos fenôme<strong>no</strong>s sociais relativos ao atendimento de necessidades<br />
materiais para o indivíduo e grupos organizados”.<br />
As obras sobre a eco<strong>no</strong>mia do país, constantes da amostra, como se verá a<br />
seguir, estão particularmente volta<strong>das</strong> para as relações entre eco<strong>no</strong>mia e política<br />
econômica, motivo pelo qual <strong>no</strong>s pareceu mais adequado utilizar o termo<br />
eco<strong>no</strong>mia política para designar o campo disciplinar que integram.<br />
Quando se observam os estudos realizados naquele período, <strong>no</strong>ta-se que<br />
polêmicas sobre objeto e método suscita<strong>das</strong> pelas diferentes correntes do<br />
pensamento econômico – que aliás distinguem, especialmente, os eco<strong>no</strong>mistas<br />
lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s naquele momento – não modificam o grau de interesse<br />
<strong>no</strong> conhecimento e <strong>no</strong> debate do desenvolvimento da eco<strong>no</strong>mia nacional. Para essa<br />
32. O texto de Marx é de 1859. Cf. MARX, Karl. Contribution à la critique de l’éco<strong>no</strong>mie politique. Paris:<br />
Éditions Sociales, 1957. p. 4.<br />
33. Cf. SELIGMAN, Edwin R. A. Eco<strong>no</strong>mics. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences. New<br />
York: Macmillan, 1948. v. V e VI, p. 345.<br />
34. Ibidem, p. 344-345.<br />
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