A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Glaucia Villas Bôas<br />
eram analfabetos. A restrição de voto ao analfabeto penalizou, portanto, principalmente<br />
a população rural, impedindo-a de maior participação <strong>no</strong> processo<br />
democrático.<br />
A despeito <strong>das</strong> evidentes restrições à participação política popular, por<br />
meio do voto, dados do IBGE 16 mostram que o eleitorado brasileiro cresceu<br />
durante aquele período.<br />
Nas eleições de 1945, foram habilita<strong>das</strong> a votar 7.459.849 pessoas e, em<br />
1962, o total de eleitores foi de 18.528.847. A queda gradativa da taxa de<br />
analfabetos nas cidades e a inclusão de um contingente de votos femini<strong>no</strong>s<br />
(direito instituído <strong>no</strong> Código Eleitoral de 1932 e mantido pela Constituição<br />
de 1946) são fatores que podem ter influído <strong>no</strong> crescimento do número de<br />
eleitores. A par disso, os debates sobre as questões políticas nacionais foram<br />
tomando espaço nas cidades, promovidos freqüentemente por associações<br />
não-partidárias que assumiam a condução de lutas político-reivindicatórias,<br />
como a União Nacional dos Estudantes, o Comando Geral dos Trabalhadores,<br />
a Ação Católica e outros. Referindo-se aos a<strong>no</strong>s que vão de 1955 a<br />
1966, Octavio Ianni diz que “todos os grandes acontecimentos políticos da<br />
última década, particularmente dos últimos a<strong>no</strong>s, desenvolveram-se com ativa<br />
e muitas vezes decisiva participação <strong>das</strong> uniões de estudantes universitários,<br />
sindicatos do proletariado, grupos parlamentares extra-partido”. 17 O clima de<br />
discussão sobre os desti<strong>no</strong>s do país, que se configurou naquela época, possivelmente<br />
também contribuiu para uma maior participação através do voto.<br />
Entretanto, o aumento do eleitorado é explicado pela intensificação de<br />
mecanismos utilizados pelas lideranças políticas para estabelecer contato com<br />
grupos urba<strong>no</strong>s, sobretudo os de baixa renda, através dos “cabos eleitorais”.<br />
Esses intermediários entre os representantes políticos e seus eleitores buscavam<br />
conseguir os votos indispensáveis para a eleição de “seu” candidato,<br />
atendendo ou prometendo atender a reivindicações e pedidos (de empregos,<br />
vagas em escolas etc.) de pessoas com quem mantinham contato próximo.<br />
Segundo Juarez Brandão Lopes, esta prática permitia que representantes de<br />
grupos econômicos pudessem “comprar diretamente ou indiretamente os cabos<br />
eleitorais, e se elegerem”. 18<br />
16. A respeito do crescimento do eleitorado ver LAMOUNIER, Bolívar; MUSZyNSKI, Judith.<br />
Resultados eleitorais. In: ESTATíSTICAS históricas do <strong>Brasil</strong>: séries econômicas, demográficas<br />
e sociais, de 1550 a 1988. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. p. 631-632.<br />
17. Cf. IANNI, Octavio. Processo político e desenvolvimento econômico. In: ___ et al. Política e<br />
revolução social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. p. 44.<br />
18. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 89.<br />
154<br />
FBN_RG_vocacao_03.indd 154 5/3/2009 09:53:55