A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />
Essa observação sugere que entre os a<strong>no</strong>s de 1945 e 1966 os especialistas<br />
teriam se ocupado, sobretudo, da construção de uma “memória” indígena. O<br />
interesse em rastrear o modo de vida de “antepassados” da sociedade brasileira<br />
mostra-se coerente com a tendência histórica dos estudos antropológicos<br />
naquele período – que vimos apresentando nessa exposição – e também com<br />
características apresenta<strong>das</strong> por eles desde o século XIX.<br />
O quadro XVIII mostra que o número de textos sobre a cultura indígena<br />
(treze obras) supera os demais. Entre as publicações, a maior parte se volta<br />
para o estudo de mitos, len<strong>das</strong> e religiões (cinco obras), e de línguas indígenas<br />
(quatro obras). A valorização de aspectos simbólicos da vida social dos<br />
indígenas aproxima essa linha de trabalho daquela que registra mitos, contos<br />
e provérbios (treze obras), do conjunto “tradições populares”, e também <strong>das</strong><br />
pesquisas sobre as religiões afro-brasileiras (onze obras), o que demonstra a<br />
atenção dos antropólogos ao pla<strong>no</strong> simbólico da vida social de grupos “diferentes”<br />
ou “não familiares” aos pesquisadores e seu grupo social.<br />
Freqüentes são os trabalhos sobre “grupos indígenas específicos” que buscam<br />
descrever aspectos diversos da vida social de uma tribo. Das <strong>no</strong>ve obras, três tratam<br />
especialmente da organização social daqueles grupos. Sobre “integração indígena”,<br />
oito livros mostram os processos peculiares à inserção dessas populações na estrutura<br />
socioeconômica e política do país, ou especificamente de uma de suas regiões, e as<br />
conseqüências desse “trajeto” para as tribos. A maior parte <strong>das</strong> pesquisas tem como<br />
foco de observação um grupo indígena específico. Ressalte-se o “lugar” <strong>das</strong> análises<br />
sobre “integração indígena” na configuração temática da antropologia, naquele<br />
período, observando que constitui a única categoria de estudos a tratar nitidamente<br />
<strong>das</strong> relações entre grupos étnicos distintos. Os trabalhos sobre grupos indígenas <strong>no</strong><br />
seu conjunto referem-se a essa população em geral, não tendo sido possível verificar<br />
outras características desses livros através de seus títulos.<br />
Sobre os negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong>ve obras trazem pesquisas que abordam aspectos<br />
diferenciados da vida do grupo, mas não deixam entrever uma linha<br />
clara de investigação sobre esse assunto. Seria possível assinalar apenas que<br />
os estudiosos não destacaram nesses estudos a dinâmica dos contatos e da<br />
interação entre negros e brancos; do ponto de vista antropológico, as religiões<br />
afro-brasileiras mereceram maior destaque que outros problemas concernentes<br />
às populações negras <strong>no</strong> país.<br />
Os estudos sobre imigrantes (três obras) traduzem uma tentativa de diversificação<br />
<strong>das</strong> áreas de estudo do campo da antropologia. Dois estudos circunscrevem<br />
suas observações a um grupo específico de imigrantes, enquanto<br />
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