A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Glaucia Villas Bôas<br />
da história da humanidade, e mantendo a visão et<strong>no</strong>cêntrica que já se inscrevera<br />
nas primeiras descrições dos povos “não familiares” aos europeus. Com<br />
raras exceções somente neste século, especialmente por volta dos a<strong>no</strong>s 1950,<br />
desponta <strong>no</strong> campo da antropologia uma crítica sistemática ao et<strong>no</strong>centrismo<br />
característico da disciplina, passando os antropólogos então a refletir sobre o<br />
significado da diversidade cultural.<br />
Até hoje perduram as discussões relativas à “herança et<strong>no</strong>cêntrica” da<br />
antropologia, 41 e também dificuldades quanto ao uso dos termos et<strong>no</strong>grafia, et<strong>no</strong>logia<br />
e antropologia. De modo geral, aceita-se que o termo et<strong>no</strong>grafia designe<br />
a coleta direta e minuciosa dos fenôme<strong>no</strong>s observados pelo pesquisador, procedimento<br />
que passa a ser adotado, segundo François Laplantine, <strong>no</strong> início do século<br />
XX, quando especialistas conferem importância à observação direta efetuada por<br />
eles próprios. Já a utilização dos termos et<strong>no</strong>logia e antropologia corresponde a<br />
diferentes tradições dessa área de estudo, sendo et<strong>no</strong>logia mais usada pelos franceses<br />
para o exame <strong>das</strong> diversas culturas humanas e antropologia pelos especialistas<br />
de países anglo-saxônicos, significando o estudo de gênero huma<strong>no</strong>. 42<br />
No <strong>Brasil</strong>, os estudos antropológicos se iniciam em meados do século XIX<br />
com as pesquisas que focalizam sobretudo os hábitos e costumes indígenas. No<br />
final daquele século <strong>no</strong>vos temas foram abordados, entre eles as tradições populares<br />
e a cultura africana, a exemplo dos estudos europeus, onde era <strong>no</strong>tável o preconceito<br />
racial e cultural dos estudiosos. Maria Isaura Pereira de Queiroz comenta<br />
que naquela época tal preconceito “se voltava principalmente contra o africa<strong>no</strong><br />
cuja presença <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> da sociedade brasileira era muito mais forte do que a<br />
do indígena”. 43 Contudo, uma <strong>das</strong> características desses estudos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> parece<br />
ter sido também a preocupação com a existência ou não de uma “cultura brasileira”,<br />
unidade cultural que teria se forjado ao longo da história do país, através da<br />
contribuição dos diferentes grupos étnicos integrantes da sociedade.<br />
Tudo indica que os estudos antropológicos relativos ao período que vai de<br />
1945 a 1966, examinados nesse trabalho, em sua maioria reatualizaram os tradicionais<br />
temas e problemas desse ramo do saber <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. O quadro abaixo<br />
revela os temas escolhidos pelos especialistas e o número de obras publica<strong>das</strong><br />
sobre cada um deles:<br />
41. A respeito da história da antropologia e da visâo et<strong>no</strong>cêntrica da disciplina, consultar LA-<br />
PLANTINE, François. Op. cit., p. 37-62; VELHO, Gilberto; CASTRO, E. B. Viveiros de.<br />
O conceito de cultura e o estudo de sociedades complexas: uma perspectiva antropológica.<br />
Artefato, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1. jan. 1978.<br />
42. Cf. LAPLANTINE, François. Op. cit., p. 25.<br />
43. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit., p. 380.<br />
98<br />
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 98 5/3/2009 09:48:34