A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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Glaucia Villas Bôas<br />
a relatórios de Comissão Parlamentar de Inquérito acerca do controle estrangeiro<br />
exercido sobre a imprensa brasileira, levada ao Congresso em 1957, diz<br />
que somente <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1953 empresas como a Coca-Cola, Esso Standard do<br />
<strong>Brasil</strong>, The Jonhson & Jonhson, Colgate-Palmolive etc. investiram um bilhão<br />
e 197 milhões de cruzeiros em jornais brasileiros. Mais de 50% <strong>das</strong> matérias<br />
publica<strong>das</strong> em jornais eram dedica<strong>das</strong> a elas, enquanto dados da UNESCO<br />
mostravam uma média de 21,8% do espaço concedido pela imprensa parisiense<br />
à propaganda. 22<br />
A par disso, o Estado favoreceu o crescimento da indústria jornalística<br />
através de empréstimos feitos pelo Banco do <strong>Brasil</strong>, Caixa Econômica e institutos<br />
previdenciários, além de subsídio à importação do papel, através do<br />
disposto na Lei nº 1.386, de 1951. Dez a<strong>no</strong>s depois, em 1961, esse subsídio foi<br />
cortado, provocando a falência de vários periódicos que não podiam se manter<br />
devido ao alto custo do papel importado. Quanto a isso, são sugestivos<br />
os dados do IBGE: em 1944, circulavam nas capitais brasileiras 192 jornais<br />
diários; a cifra se eleva para 261, em 1954, porém, em 1962, ela cai para 245<br />
e, em 1964, para 227. 23<br />
Analisando a penetração da imprensa nas diversas regiões do país, Juarez<br />
Brandão Lopes aponta outros obstáculos relativos à divulgação <strong>das</strong> <strong>no</strong>tícias.<br />
A tiragem média dos diários e gazetas nas capitais e zonas do interior apresentava<br />
índices bastante desiguais. Em 1960, a relação de exemplares por cem<br />
habitantes revelava esses desníveis: “mesmo nas áreas mais urbaniza<strong>das</strong>, <strong>no</strong><br />
Centro-sul e <strong>no</strong> Sul, onde a taxa para o Rio e São Paulo é quatorze e dezoito<br />
vezes a <strong>das</strong> zonas do interior; <strong>no</strong> caso <strong>das</strong> outras capitais essa razão é de seis<br />
a sete vezes”. 24 O analfabetismo, segundo o autor, era responsável em boa<br />
medida pelas diferenças, mas não as explicava inteiramente. Possivelmente,<br />
resultavam também do pouco interesse <strong>das</strong> empresas em investir em áreas<br />
cujo retor<strong>no</strong> lucrativo era duvidoso ou limitado.<br />
Ao adquirir caráter empresarial <strong>no</strong>s moldes capitalistas, sob forte influência<br />
<strong>das</strong> empresas estrangeiras, a partir de meados da década de 1950 a imprensa<br />
começou a re<strong>no</strong>var a forma de divulgar a <strong>no</strong>tícia, modificando-se a técnica<br />
de redação <strong>das</strong> matérias. O estilo mais informativo e direto aproximava-se<br />
então daquele dos jornais <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Surgia <strong>no</strong>s meios jornalísticos o<br />
22. Cf. Ibidem. A respeito da publicidade e dos investimentos estrangeiros na imprensa brasileira<br />
ver p. 463-467.<br />
23. Os dados do IBGE se encontram <strong>no</strong>s Anuários Estatísticos de 1945, 1955, 1964 e 1966.<br />
24. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 171-173.<br />
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