A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />
alizado <strong>no</strong> contexto histórico e político que marca o térmi<strong>no</strong> do regime do<br />
Estado Novo, o evento antecipa a “linha” dos debates e <strong>das</strong> discussões que<br />
vão distinguir os movimentos liderados por grupos jovens a partir de meados<br />
dos a<strong>no</strong>s 1950.<br />
Naqueles a<strong>no</strong>s, o concretismo marcou sua presença <strong>no</strong>s campos da literatura<br />
e <strong>das</strong> artes plásticas, exprimindo o caminho tomado pelas vanguar<strong>das</strong><br />
naquelas áreas da cultura. A poesia concreta fez sua estréia nas antologias<br />
Noigrandes, publica<strong>das</strong> em 1955, 1956 e 1958. Nessa última, apresentava-se<br />
um pla<strong>no</strong> piloto para a poesia concreta. Diz Alfredo Bosi 41 que os poetas<br />
concretos buscavam “abandonar polemicamente o verso” por uma linha de<br />
sintaxe espacial. O grupo “concretista” concebia a arte como uma atividade<br />
produtora, um “objeto de linguagem”, por meio do qual se opunha às vertentes<br />
intimistas da poesia.<br />
Um dos objetivos do movimento era provocar uma crise <strong>no</strong>s hábitos cognitivos<br />
do leitor, através de uma estrutura estética inspirada na imagem. O<br />
“tema” não era tido como relevante, mas os poemas concretos expunham,<br />
<strong>no</strong> mais <strong>das</strong> vezes, aspectos da sociedade capitalista, focalizando mercadorias,<br />
anúncios publicitários, o comércio dos sentimentos. Na realidade, a proposta<br />
de re<strong>no</strong>vação da linguagem poética deixava transparecer o despertar para as<br />
mudanças que então ocorriam: de um lado, valia-se da imagem e de seus efeitos<br />
sobre o leitor, recurso cada vez mais usado para a comunicação <strong>no</strong>s meios<br />
industriais capitalistas, de outro, privilegiava nas suas referências fatos que<br />
começavam a se tornar corriqueiros na vida cotidiana dos grandes centros<br />
urba<strong>no</strong>s do país naquela época.<br />
O movimento concretista evidenciou-se também nas artes plásticas. O projeto<br />
de um grupo de artistas plásticos – que se consideravam então “produtores<br />
da forma” – se aproximava daquele dos poetas, à medida que visava a manipular<br />
a forma de tal modo que ela produzisse uma <strong>no</strong>va organização visual, a qual<br />
atuaria sobre os hábitos tradicionais do espectador. A reprodução <strong>das</strong> criações<br />
deixou de ser censurada; afinal, buscava-se inserir a arte na sociedade, para que<br />
deixasse de ser um mero objeto de fruição. Nos a<strong>no</strong>s 1950, o concretismo levava<br />
“a arte brasileira a ingressar <strong>no</strong> campo daqueles movimentos que mais<br />
radicalizaram as possibilidades abertas pela ‘arte moderna’ ”. 42<br />
41. Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 528. Os<br />
comentários feitos sobre o movimento concretista na literatura se encontram nas p. 528-536.<br />
42. Cf. ZILIO, Carlos. Da antropologia à tropicália. In: ZILIO, Carlos; TAFETÁ, João Luiz;<br />
LEITE, Lígia Chiappine Moraes. Artes plásticas e literatura. 2 ed. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1983. p.<br />
22-23.<br />
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