A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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Glaucia Villas Bôas<br />
um leque de assuntos bem mais diversificado se comparado àquele publicado<br />
na década anterior. As ciências sociais asseguraram naquela ocasião, a julgar<br />
pelos dados analisados, uma forma de difusão acessível a um público mais<br />
amplo e diferenciado, garantindo e ampliando o diálogo entre gerações interessa<strong>das</strong><br />
<strong>no</strong> conhecimento da vida social.<br />
A produção <strong>das</strong> ciências sociais se expande, portanto, <strong>no</strong> período histórico<br />
em que a industrialização toma seu rumo definitivo <strong>no</strong> país. Viu-se que, a partir<br />
de meados da década de 1950, as mudanças na infra-estrutura socioeconômica<br />
relativas à consolidação e integração do setor industrial levaram à modificação de<br />
outros setores da vida nacional que vinham esboçando sinais de transformação,<br />
mas somente naqueles a<strong>no</strong>s apresentaram mudanças efetivas. Tais modificações<br />
se evidenciaram <strong>no</strong> aumento da população, na expansão <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias, na<br />
importância da classe operária <strong>no</strong> cenário econômico e social, nas modificações<br />
havi<strong>das</strong> na estrutura burocrática do Estado, <strong>no</strong>s movimentos políticos <strong>no</strong> campo<br />
e na cidade, na radiodifusão, <strong>no</strong> cinema, na publicidade. A experiência dessas mudanças<br />
gerava um <strong>no</strong>vo horizonte de expectativas com relação aos desti<strong>no</strong>s do<br />
país, que decerto favorecia duplamente a produção e recepção do conhecimento,<br />
criando assim um terre<strong>no</strong> fértil para a expansão <strong>das</strong> ciências sociais.<br />
Sem dúvida, esse quadro de mudanças criou possibilidades materiais para a<br />
ampliação de um mercado para as ciências sociais. O número de universidades<br />
e estudantes cresceu <strong>no</strong>tadamente, intensificando-se a participação dos cientistas<br />
na construção da comunidade científica. Tal crescimento incrementava<br />
o aparecimento de maior quantidade de editoras e a expansão <strong>das</strong> livrarias. Paralelamente,<br />
cresciam também as chances intelectuais propícias, provenientes<br />
da vivência <strong>das</strong> transformações que marcavam aquela época. A transformação<br />
econômica e, principalmente, industrial do país era concomitante com uma<br />
ampliação de produção cultural <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais.<br />
A situação histórica e social emergente naqueles a<strong>no</strong>s, criando uma demanda<br />
comum de conhecimentos que explicassem os fatos observados e vivenciados,<br />
aproximava cientistas sociais e leitores. Nessas circunstâncias, as<br />
chances de abordar assuntos voltados para a elucidação <strong>das</strong> mudanças específicas<br />
e profun<strong>das</strong> da vida nacional ultrapassavam a escolha de temas relativos<br />
ao desenvolvimento do conhecimento científico em si mesmo.<br />
A par disso, outro fator vantajoso para a expansão <strong>das</strong> ciências sociais naquela<br />
época foi o caloroso debate sobre o papel social e político da produção<br />
cultural, incentivado por setores atuantes <strong>no</strong>s meios culturais e intelectuais.<br />
Na realidade, a partir de meados da década de 1950, as discussões sobre os<br />
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