A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Glaucia Villas Bôas<br />
‘índio’, pelo ‘folclore negro’, pelos ‘assuntos brasileiros’ etc., as tendências<br />
à reelaboração intelectual <strong>das</strong> descobertas dos etnólogos são quase nulas.<br />
Mesmo contribuições cujo sentido supra-et<strong>no</strong>lógico seja evidente – para a<br />
interpretação histórica do passado ou para o conhecimento do presente –<br />
permanecem inaproveita<strong>das</strong> ou sofrem severas restrições, o que demonstra<br />
o apego de larga parte do público leigo pelos modos pré-científicos de<br />
concepção do mundo”. 50<br />
É interessante verificar que a crítica de Florestan Fernandes era dirigida<br />
em grande medida ao público leitor. Segundo ele, a falta desse público desestimulava<br />
os pesquisadores. Essa observação é de grande importância porque<br />
expõe o problema da divulgação do conhecimento e seu efeito sobre a elaboração<br />
dos estudos.<br />
Os comentários de Luís Aguiar Costa Pinto revelam uma crítica mais<br />
severa à antropologia. Para o autor, a abordagem culturalista dos estudos<br />
antropológicos, naqueles a<strong>no</strong>s, não tinha rigor conceitual e metodológico<br />
suficientes para efetuar o “estudo científico dos <strong>no</strong>vos aspectos<br />
assumidos pelas relações interétnicas <strong>no</strong> interior de uma sociedade em<br />
mudança”. Na realidade, as reflexões de Costa Pinto terminam por conferir<br />
maior importância à sociologia pelos meios teóricos e metodológicos<br />
de que se dispunha para a compreensão e explicação do processo de<br />
transformações do país. 51<br />
Ambos os autores sugeriam uma revisão dos estudos da antropologia<br />
que levasse em conta as mudanças socioeconômicas do momento, mas, evidentemente,<br />
os comentários críticos dos dois sobre os estudos antropológicos<br />
se diferenciam. Florestan Fernandes aponta os caminhos, segundo<br />
ele, necessários para uma atualização <strong>das</strong> pesquisas <strong>no</strong> campo da antropologia,<br />
ainda que houvesse obstáculos para uma divulgação mais ampla de<br />
seus resultados. Luís Aguiar Costa Pinto é cético quanto às possibilidades<br />
teórico-metodológicas da disciplina <strong>no</strong> que respeita à elucidação dos problemas<br />
étnicos e culturais naquele momento. Os dois comentários abordam,<br />
portanto, o problema da persistência dos temas antropológicos de ângulos<br />
diferentes; porém, eles se completam e levam a compreender um conjunto<br />
50. Ibidem, p. 34.<br />
51. Cf. Pinto, Luís Aguiar Costa. Sociologia e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />
1965.p. 78-79.<br />
108<br />
FBN_RG_vocacao_02 a.indd 108 5/3/2009 09:48:36