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A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...

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Glaucia Villas Bôas<br />

sas características levaram à ênfase da questão da “identidade brasileira”. Elas<br />

adquiriram e<strong>no</strong>rme relevância, sendo vistas, <strong>no</strong> entanto, ora como obstáculo<br />

ao processo do país, ora como elemento constitutivo essencial de sua identidade,<br />

dependendo as opiniões <strong>das</strong> circunstâncias histórico-sociais da época. O<br />

conjunto de estudos sobre fatos e questões étnico-culturais, descritos anteriormente,<br />

não deixa dúvi<strong>das</strong> quanto à continuidade daquelas questões, que decerto<br />

permaneciam também <strong>no</strong> horizonte de expectativas do público leitor. A maior<br />

parte <strong>das</strong> obras concentrou-se em trabalhos sobre as tradições populares e sobre<br />

os diferentes grupos étnico-culturais, focalizando estes últimos, principalmente,<br />

os indígenas e em me<strong>no</strong>r escala os grupos negros e imigrantes.<br />

A dificuldade em ampliar o alcance dos estudos sobre os fatos culturais<br />

se faz <strong>no</strong>tar, mais claramente, <strong>no</strong> crescente número de pesquisas sobre as<br />

tradições populares, que se elevam de 21 para 27 de uma década para outra.<br />

Aparentemente, tanto na primeira quanto na segunda fase, esses trabalhos<br />

foram incentivados pelo movimento a favor do registro e documentação do<br />

folclore brasileiro, que, como já foi visto, levou a reuniões como o I Congresso<br />

Nacional do Folclore, em 1951, e à Campanha de Defesa do Folclore, em<br />

1958. Acreditava-se então que a cultura popular era a “fonte da brasilidade”. 16<br />

A partir dos a<strong>no</strong>s 1960, ampliou-se muito a discussão sobre assunto com a<br />

criação dos Centros Populares de Cultura, que propunham a utilização <strong>das</strong><br />

manifestações culturais <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> populares como meio de conscientizar<br />

politicamente aqueles grupos, a fim de que pudessem lutar por melhores condições<br />

de vida. É interessante observar que na segunda fase aqui abordada,<br />

muito embora o tema da cultura popular sobressaísse cada vez mais nas discussões<br />

da camada intelectual, acentuando-se seu valor político, nenhuma <strong>das</strong><br />

pesquisas em foco apresenta traço indicando interesse em estudar aquelas<br />

manifestações sob o prisma de seu valor político; como na primeira fase, as<br />

pesquisas se orientaram primordialmente pela investigação <strong>das</strong> origens <strong>das</strong><br />

tradições populares.<br />

Outra observação, diz respeito ao habitual privilégio conferido aos estudos<br />

sobre as populações indígenas, ao contrário do que acontecia com os estudos<br />

sobre as populações negras <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Ainda que o número de pesquisas sobre<br />

os grupos indígenas tenha diminuído a partir de 1955, de 22 para 13, data em<br />

16 Cf. CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Revista <strong>Brasil</strong>eira de<br />

Folclore, Rio de Janeiro, 1962.<br />

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