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A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

local onde a pesquisa foi realizada. No tocante às crenças, evidencia-se mais<br />

uma vez <strong>no</strong> período abordado um interesse que já marcara a antropologia<br />

desde os trabalhos de Nina Rodrigues.<br />

O conjunto de estudos sobre “cultura rural” retrata aspectos culturais<br />

peculiares ao sistema econômico que primeiro se consolidou <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e<br />

assentou as bases da colonização portuguesa <strong>no</strong> Nordeste. As pesquisas<br />

focalizam o povoamento da região, a origem e as características do engenho<br />

de açúcar, e outros aspectos da vida rural, configurada pela produção da<br />

cana-de-açúcar e pelo patriarcalismo. Note-se que mais uma vez se utiliza<br />

nesse conjunto a <strong>no</strong>ção de região como área específica onde se desenvolvem<br />

determinados padrões culturais.<br />

O quadro XVI indica que os estudos sobre “formação étnico-cultural”,<br />

“religiões afro-brasileiras” e “cultura rural”, comparativamente me<strong>no</strong>s pesquisados<br />

pelos antropólogos, não sofrem alterações, mantendo uma quantidade<br />

semelhante de livros de uma fase para a outra.<br />

Como se vê, houve poucas modificações <strong>no</strong> escopo temático da antropologia,<br />

o que indica apego por parte dos estudiosos dessa área às suas questões<br />

durante um período de 20 a<strong>no</strong>s. Não foram focalizados <strong>no</strong>vos assuntos, os<br />

livros se dividem entre os mesmos temas nas duas fases estuda<strong>das</strong>.<br />

No período abordado, a necessidade de uma avaliação da produção antropológica<br />

foi assinalada por Florestan Fernandes, em 1953, e por Luís<br />

Aguiar Costa Pinto, em 1963. Florestan Fernandes chamava a atenção para<br />

a importância dos estudos sobre a mudança cultural, nas áreas da cultura<br />

indígena, da cultura afro-brasileira, da cultura campesina e da cultura trazida<br />

pelos imigrantes. Segundo o autor, era preciso medir as reações <strong>das</strong> diversas<br />

culturas às influências <strong>das</strong> transformações socioeconômicas em curso: “há<br />

certa urgência de intensificar os trabalhos deste gênero, porque se sabe que<br />

as oportunidades perdi<strong>das</strong> <strong>no</strong> presente são irremediáveis. A transformação<br />

do cenário é rápida e muitas situações terão que ser descritas agora ou nunca<br />

o serão, o mesmo se podendo dizer sobre a análise dos problemas que elas<br />

colocam à investigação et<strong>no</strong>lógica.” 49<br />

Mas Florestan Fernandes mostrava também que a recepção de <strong>no</strong>vos enfoques<br />

dos estudos et<strong>no</strong>lógicos pelos círculos intelectuais era problemática.<br />

Atribuía à mentalidade “pré-científica” do público leigo dificuldades que desestimulavam<br />

as investigações modernas da antropologia: “embora as publicações<br />

et<strong>no</strong>lógicas encontrem algum público, por causa da curiosidade pelo<br />

49. Cf. FERNANDES, Florestan. A et<strong>no</strong>logia e a sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Anhambi, 1958. p. 38.<br />

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