A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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Glaucia Villas Bôas<br />
A procura pela educação universitária costuma ser atribuída também às<br />
oportunidades que as cama<strong>das</strong> médias urbanas tiveram, naquela época, de<br />
realizar seus anseios de ascensão social por meio da conquista de um grau<br />
mais elevado de instrução. No <strong>Brasil</strong>, desde o século XIX, a instrução era<br />
valorizada como símbolo de prestígio social e um fator de ascensão social. O<br />
grau universitário não só assegurava maiores possibilidades de prestígio social,<br />
como um nível de renda superior àquele oferecido pelos demais graus de ensi<strong>no</strong>.<br />
A par disso, os diplomados em escolas superiores possuíam privilégios<br />
legais relativos ao exercício profissional, ocupação de cargos e outros.<br />
No período em foco, as cama<strong>das</strong> médias urbanas foram sendo favoreci<strong>das</strong><br />
pela política econômica que lhes assegurava, comparativamente a outras<br />
parcelas da população, um nível de renda mais elevado. Assim, famílias<br />
pertencentes àquelas cama<strong>das</strong> puderam retardar o ingresso de seus filhos <strong>no</strong><br />
mundo profissional; ao mesmo tempo, as <strong>no</strong>vas oportunidades de emprego<br />
na burocracia pública e privada, exigindo grau universitário, justificavam suas<br />
expectativas. Em tais condições, tor<strong>no</strong>u-se ainda mais significativo o valor<br />
atribuído à instrução como um importante fator de diferenciação e distinção<br />
de classe, visto então como um meio para as cama<strong>das</strong> médias se aproximarem<br />
dos contingentes mais ricos <strong>no</strong> meio urba<strong>no</strong>. Analisando as classes sociais <strong>no</strong><br />
<strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1950 e 1960, Maria Isaura Pereira de Queiroz ressalta que a<br />
“instrução constituía ao mesmo tempo uma <strong>das</strong> vias de ascensão social, quanto<br />
uma <strong>das</strong> barreiras que a impediam, e <strong>das</strong> mais importantes do país”. 47<br />
Diversas medi<strong>das</strong> governamentais foram toma<strong>das</strong> para atender à demanda<br />
que provinha, de um lado, da expansão do mercado de trabalho <strong>no</strong>s setores<br />
da burocracia pública e privada, e de outro, <strong>das</strong> expectativas de ascensão social<br />
<strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias urbanas. A aglutinação de escolas isola<strong>das</strong> e a organização<br />
de <strong>no</strong>vas universidades foi facilitada por dois Decretos-Lei: o primeiro deles,<br />
nº 8.457, de dezembro de 1945, promulgado pelo presidente provisório, José<br />
Linhares, modificou as exigências estabeleci<strong>das</strong> pelo Estatuto <strong>das</strong> Universidades<br />
<strong>Brasil</strong>eiras, de 1931, facilitando em grande medida a organização de<br />
<strong>no</strong>vas universidades. O decreto permitia que uma universidade se organizasse<br />
com base em três faculdades, duas <strong>das</strong> quais deveriam ser escolhi<strong>das</strong> dentro<br />
<strong>das</strong> áreas da Filosofia, Direito, Medicina e Engenharia, diferentemente do<br />
Estatuto de 1931, que exigia a inclusão de três dentre aquelas áreas de formação<br />
profissional. Desse modo, tornava-se possível fundar uma universidade<br />
sem que fosse preciso investir nas custosas áreas de Medicina e Engenharia.<br />
47. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit., p. 124.<br />
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