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A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...

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Glaucia Villas Bôas<br />

A mesma busca de uma linguagem artística que atuasse sobre o público,<br />

provocando a modificação de seus hábitos e despertando-o para problemas<br />

ou mudanças de ordem social, ocorreu <strong>no</strong> teatro, ainda que este guar<strong>das</strong>se suas<br />

especificidades. As experiências feitas por grupos como o Arena e o Oficina,<br />

em São Paulo, o Opinião, <strong>no</strong> Rio de Janeiro, o Teatro Popular do Nordeste,<br />

em Recife, e o Teatro de Equipe, em Porto Alegre, confirmam o empenho da<br />

classe teatral em pesquisar e modificar a escrita cênica. O Oficina, criado por<br />

um grupo de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo,<br />

exemplifica bem o interesse em romper com o estilo do teatro tradicional<br />

a partir da experiência vivida num contexto histórico específico.<br />

Uma <strong>das</strong> características da tentativa de re<strong>no</strong>vação dos grupos ligados ao<br />

teatro foi a escolha de temas que chamassem a atenção para problemas de<br />

ordem social e política, especialmente característicos da sociedade brasileira,<br />

típicos de países “subdesenvolvidos” ou comuns à sociedade burguesa e capitalista<br />

de modo geral. Em 1960, o Oficina encenava duas peças. Uma de autor<br />

brasileiro inédito, tratava de problemas dos trabalhadores rurais do Paraná; a<br />

outra de autor estrangeiro tematizava a questão da libertação dos países lati<strong>no</strong>america<strong>no</strong>s,<br />

sempre ameaçados por regimes políticos autoritários. O propósito<br />

de mudança não se limitava, entretanto, aos temas, mas incluía a procura de <strong>no</strong>vas<br />

modalidades de comunicação com o público, o que exigia intensa pesquisa<br />

de interpretação, feita em laboratório, com exercícios especiais.<br />

Em 1962, o Oficina já se manifestava sobre as mudanças que vinham sendo<br />

postas em prática. Para o grupo a re<strong>no</strong>vação <strong>no</strong> campo do teatro havia dado<br />

um grande passo, “com o aparecimento do autor nacional, a desofisticação<br />

do estilo de interpretação, e com a introdução dos temas políticos e sociais”. 43<br />

Porém, era preciso dar continuidade às i<strong>no</strong>vações. Identificando-se como o<br />

grupo mais jovem a perceber que uma etapa do movimento havia se esgotado,<br />

o Oficina clamava pela necessidade de dar andamento a <strong>no</strong>vos experimentos,<br />

o que o levou não só a encenar temas problematizados em diferentes épocas<br />

e lugares, como também às pesquisas que resultaram na proposta de uma<br />

<strong>no</strong>va relação palco/platéia. Almejava-se uma linguagem cênica que deixasse o<br />

público dividido e em “crise”, impedindo que se identificasse com aquilo que<br />

via, atitude mais costumeira na sua relação com o teatro.<br />

O clima dos meios culturais estimulava e propiciava as mudanças e re<strong>no</strong>vações.<br />

O comentário de Glauber Rocha, transcrito a seguir, é bem sugestivo: “em<br />

43. Cf. PEIXOTO, Fernando. Teatro Oficina (1958 – 1982): trajetória de uma rebeldia cultural. São<br />

Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1982. p. 30-31.<br />

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