A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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Glaucia Villas Bôas<br />
de alternativas para re<strong>no</strong>var a linguagem artística, literária, cinematográfica. O<br />
propósito re<strong>no</strong>vador desses grupos colocava em xeque, sob diferentes aspectos, o<br />
papel social da produção dos setores artísticos e literários e se deixou traduzir<br />
em eventos, grupos de vanguarda, manifestos, organização de instituições.<br />
Em janeiro de 1945, a Associação <strong>Brasil</strong>eira de Escritores promovia na cidade<br />
de São Paulo o I Congresso <strong>Brasil</strong>eiro de Escritores. O evento reuniu diversas<br />
figuras proeminentes do mundo literário e intelectual dos vários estados<br />
brasileiros. 39 Dele, participaram tanto pessoas dedica<strong>das</strong> à produção literária,<br />
stricto sensu, como especialistas em direito, antropologia, sociologia, história. Na<br />
reunião, foram discutidos assuntos tão variados como a relação do rádio com a<br />
literatura, os direitos autorais de escritores e jornalistas, a necessidade de reforma<br />
agrária <strong>no</strong> país, a re<strong>no</strong>vação da literatura infantil, a edição de livros “instrutivos”,<br />
a criação de bibliotecas ambulantes etc. Apesar da diversidade dos assuntos<br />
abordados, percebe-se que os escritores estavam voltados para a questão da<br />
democratização da cultura, através do que avaliavam, sobretudo, as condições<br />
de divulgação de seu trabalho; mas buscavam também se posicionar frente a<br />
problemas sociais e políticos, discutindo temas como a reforma agrária.<br />
A questão do papel social e político do escritor se evidencia, claramente,<br />
em um dos itens do manifesto entregue por um grupo de congressistas à Associação<br />
<strong>Brasil</strong>eira de Escritores:<br />
[...] que embora não se deva confundir agitação, propaganda<br />
e literatura com a obra de arte e não seja possível atingir o<br />
escritor o máximo de sua força, na língua e <strong>no</strong> estilo, senão<br />
entregando-se na plenitude da liberdade, à sua própria inspiração,<br />
tenham presente os escritores a idéia de que somente a<br />
literatura e a arte que desempenham um papel social, servem<br />
à coletividade de seu tempo e se alimentam e se re<strong>no</strong>vam em<br />
contato com to<strong>das</strong> as cama<strong>das</strong> sociais, podem realizar a comunhão<br />
fecunda entre o povo e os criadores da cultura. 40<br />
As discussões que ocorreram <strong>no</strong> I Congresso <strong>Brasil</strong>eiro de Escritores deixam<br />
entrever o interesse pelo exame e pela redefinição do valor atribuído à<br />
produção cultural, a partir da perspectiva de sua inserção na sociedade. Re-<br />
39. Cf. MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática,<br />
1978.p. 137-140.<br />
40. Ibidem, p. 146.<br />
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