A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...
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Glaucia Villas Bôas<br />
cuja expansão foi surpreendente. Entre 1955 e 1961, a produção física da indústria<br />
de transportes (inclusive automóveis) cresceu 550%, e a indústria de<br />
material elétrico e de comunicação (inclusive eletrodomésticos) cresceu 368%.<br />
Os segmentos do setor industrial mais voltados para o consumo popular tiveram<br />
aumento me<strong>no</strong>r. A indústria alimentícia, por exemplo, cresceu 47% e a<br />
têxtil 29%, o que evidencia a relevância atribuída aos segmentos que permitiam<br />
maior acumulação de capital e satisfaziam necessidades de grupos de renda mais<br />
elevada. 11 Em terceiro lugar, os salários reais permaneceram constantes, vindo<br />
mesmo a diminuir em alguns setores. Enquanto a eco<strong>no</strong>mia se expandia,<br />
ampliavam-se as oportunidades de emprego, o que compensava, ao me<strong>no</strong>s temporariamente,<br />
os efeitos negativos da inflação sobre o custo de vida.<br />
Todavia, ao térmi<strong>no</strong> do gover<strong>no</strong> de Jusceli<strong>no</strong> Kubitschek de Oliveira, começaram<br />
a surgir sinais da primeira crise gerada pelas decisões governamentais<br />
relativas ao desenvolvimento industrial do país. Embora fomentassem<br />
o crescimento econômico, elas levavam à concentração de renda e redução<br />
drástica do poder aquisitivo dos salários. Os gover<strong>no</strong>s seguintes, especialmente<br />
o de João Goulart, durante o qual se elaborou o Pla<strong>no</strong> Trienal, cujo objetivo<br />
era corrigir as eleva<strong>das</strong> pressões inflacionárias e restabelecer o processo de<br />
acumulação, não obtiveram o resultado esperado, intensificando-se as crises<br />
econômica e política que marcaram o início dos a<strong>no</strong>s 1960 e culminaram <strong>no</strong><br />
golpe de estado de 1964.<br />
Os rumos da industrialização <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> foram marcados definitivamente<br />
pela política econômica adotada em meados da década de 1950. O acelerado<br />
crescimento da eco<strong>no</strong>mia brasileira baseou-se então na consolidação e forte<br />
expansão do setor industrial, liderada particularmente pela produção de<br />
bens de consumo duráveis, dirigidos às cama<strong>das</strong> com mais altos rendimentos.<br />
A modalidade, por meio da qual se implantou o capitalismo industrial<br />
<strong>no</strong> país, trouxe poucos frutos para a maioria de sua população, acentuando<br />
as desigualdades socioeconômicas. Além disso, agravou os desequilíbrios regionais,<br />
favorecendo a região Sudeste, onde somente o estado de São Paulo<br />
concentrou 70% do capital investido, através dos benefícios da “instrução<br />
113” da SUMOC. 12 As disparidades se fizeram sentir também <strong>no</strong> que respeita<br />
aos meios rural e urba<strong>no</strong>: a taxa de crescimento da produção agrícola entre<br />
11. Cf. SINGER, Paul. A crise do milagre: interpretação crítica da eco<strong>no</strong>mia brasileira. Rio de Janeiro:<br />
Paz e Terra, 1976. p. 102. apud CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro:<br />
Livraria Francisco Alves, 1983. p. 38.<br />
12. Cf. IANNI, Octavio. Estado e capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. p. 90. apud<br />
CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 42.<br />
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