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A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...

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Glaucia Villas Bôas<br />

Ao buscar compreender os motivos que geram a tardia definição de ciência<br />

política, os alemães Ferdinand Hermens e Rudolf Wildemann concordam<br />

com Carl J. Friedrich, para quem a ciência política só poderia se configurar<br />

como campo de estudo em um contexto social e histórico <strong>no</strong> qual houvesse<br />

um Estado de essência “livre” (freien Staatswesen), já que a disciplina questiona<br />

justamente aquilo que os agentes condutores do sistema de dominação<br />

prefeririam manter em sigilo. Para os autores, a ciência política é uma expressão<br />

<strong>das</strong> liberdades democráticas <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> do conhecimento, tendo florescido<br />

tanto nas cidades-estado da Antigüidade, quanto em países de regime democrático<br />

<strong>no</strong>s séculos XIX e XX. 56<br />

Essa maneira de pensar se prende ao fato de que desde a Antigüidade clássica,<br />

os escritores políticos, a exemplo de Platão, se preocuparam em descrever<br />

o que deve ser a melhor organização política de uma sociedade. O ponto<br />

de vista <strong>no</strong>rmativo era dominante. Ainda <strong>no</strong> século XVIII, embora os eco<strong>no</strong>mistas<br />

já admitissem que a sociedade também era regida por “leis físicas” que<br />

precisavam ser descobertas, o que existia era uma filosofia política assentada<br />

numa filosofia da história, largamente pesquisada por muitos pensadores. Somente<br />

<strong>no</strong> século XIX a <strong>no</strong>ção criada <strong>no</strong> domínio econômico é transportada<br />

para domínio político.<br />

A partir dessa época se admite então que também <strong>no</strong> domínio político há<br />

relações constantes que se impõem aos homens. Além disso, as estruturas de<br />

poder não derivam exclusivamente da vontade de líderes ou da inteligência<br />

de pensadores e filósofos; estão também domina<strong>das</strong> por maneiras de ser que<br />

a eles se impõem e provêm da própria sociedade. No entanto, as dúvi<strong>das</strong> a<br />

respeito ainda permanecem.<br />

Hermann Heller, por exemplo, afirma que o “campo político”, <strong>no</strong> sentido<br />

mais amplo, não é passível de abordagem empírica. O cientista político está fadado<br />

a limitar-se ao exame, em termos descritivos, de atividades políticas e formas<br />

institucionais de atividades que pressupõem o exercício independente do poder,<br />

não definido ou predeterminado por rígido e <strong>no</strong>rmativo conjunto de leis. 57<br />

Apesar <strong>das</strong> ambigüidades e imprecisões que reconhecem, Hermens e Wildemann<br />

buscam definir o objeto da ciência política. Ela estudaria a “função<br />

56. Cf. HERMENS, Ferdinand A.; WILDEMANN, Rudolf. Politische Wissenschaft. In: HAND-<br />

WÖRTERBUCH der Sozialwissenschaften. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 8, p. 388.<br />

57. Vf. HELLER, Hermann. Op. cit., p. 209.<br />

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