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Lawrence_Lessig_-_Cultura_Livre

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106<br />

mente de Washington.<br />

Ao defender a liberdade artística e de expressão da qual nossa cultura<br />

depende, a MPAA fez algo realmente importante. Ao criar o sistema de<br />

classificação etária da MPAA, ela provavelmente evitou muitos problemas de<br />

regulamentação da expressão. Mas há um aspecto da missão da organização<br />

que é tanto o mais radical quanto o mais importante: é a sua busca,<br />

epitomizada em cada ato de Valenti, para redefinir o que é “propriedade<br />

intelectual”.<br />

Em 1982, o testemunho de Valenti diante do Congresso deixou transparecer<br />

perfeitamente sua estratégia:<br />

“Não importa as longas argumentações, as voltas e reviravoltas,<br />

os tumultos e a baderna, as pessoas racionais irão sempre<br />

voltar ao argumento fundamental, o tema central que anima<br />

esse debate como um todo: os donos de propriedade intelectual<br />

precisam ter os mesmos direitos e proteções de todos os demais<br />

proprietários de bens do país. Esse é o assunto. Essa é a questão.<br />

E essa é a raiz da qual todos os debates devem derivar.” [118]<br />

A estratégia dessa retórica, como a da maioria da retórica de Valenti, é<br />

simples e brilhante, e brilhante em sua simplicidade. O “tema central” ao<br />

qual “pessoas racionais” se voltam é: “os donos de propriedade intelectual<br />

precisam ter os mesmos direitos e proteções de todos os demais proprietários<br />

de bens do país”. Assim como não há cidadãos de segunda classe, ele poderia<br />

ter continuado, não deveriam haver proprietários de segunda classe.<br />

Esse argumento possui um poderoso e óbvio fator indutivo. Ele é dotado<br />

de uma tal clareza que torna a idéia tão óbvia quanto a noção de usarse<br />

eleições para escolher-se presidentes. Mas na verdade, não há apelo tão<br />

extremo feito de forma séria por qualquer um nesse debate quanto o apelo de<br />

Valenti. Jack Valenti, embora suave e brilhante, é talvez o maior extremista<br />

da nação quanto à natureza e escopo da “propriedade intelectual”. Suas<br />

idéias não possuem conexão racional em nossa tradição legal atual, mesmo<br />

que o impulso sutil de seu charme texano esteja lentamente redefinindo essa<br />

tradição, ao menos em Washington.<br />

Embora a “propriedade intelectual” é certamente “propriedade” no sentido<br />

preciso e complexo no qual os advogados são treinados para entender, [119]<br />

isso não significa que os “donos de propriedade intelectual” possuem, ou deveriam<br />

possuir “os mesmos direitos e proteções de todos os demais proprietários<br />

de bens do país”. De fato, se os donos de propriedades intelectuais receberem<br />

os mesmo direitos dos demais donos de propriedades, isso irá causar uma<br />

mudança radical e altamente indesejável nas nossas tradições.

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