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Lawrence_Lessig_-_Cultura_Livre

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33 “Meros Copiadores”<br />

desconstruir as imagens dos meios de comunicação. Ela visa torná-lo [as<br />

crianças] entendidas em como os meios de comunicação funcionam, como<br />

eles são criados, distribuídos, e como as pessoas têm acesso a eles”.<br />

Essa pode ser uma forma estranha de se pensar sobre “alfabetização”.<br />

Para muito de nós, alfabetização é sobre ler e escrever. Ler Faulkner e Hemingway<br />

e saber gramática são coisas que pessoas “alfabetizadas” sabem fazer.<br />

Talvez. Mas em um mundo aonde as crianças vêem uma média de 390 horas<br />

de comerciais na televisão por ano, ou algo em torno de 20 a 45 mil comerciais<br />

em geral, [35] é cada vez mais importante entender-se a “gramática” dos<br />

meios de comunicação. Porque, da mesma forma que existe uma gramática<br />

para a palavra escrita, existe também uma para os meios de comunicação. E<br />

da mesma forma que as crianças aprendem a escrever escrevendo toneladas<br />

de redações ruins, as crianças só aprenderão a criarem conteúdo construindo<br />

toneladas de (ao menos de início) conteúdo ruim.<br />

Um crescente grupo de acadêmicos e ativistas vêem essa forma de alfabetização<br />

como primordial para a próxima geração de cultura. Porque embora<br />

qualquer um que já tenha escrito sabe o quão difícil é escrever - manter uma<br />

seqüência lógica na estória, manter a atenção do leitor, usar-se de uma linguagem<br />

compreensível — poucos de nós fazem a menor idéia de quão difícil<br />

é criar-se conteúdo para os meios de comunicação. Ou mais fundamentalmente,<br />

poucos de nós fazem a menor idéia de como os meios de comunicação<br />

funcionam, como eles mantêm o público interessado, como eles lidam com as<br />

estórias, criam o suspense ou disparam as emoções.<br />

Levou uma geração para que a filmagem alcançasse a qualidade que possui<br />

hoje. Mesmo então, o conhecimento estava na filmagem, e não em escrever<br />

sobre a filmagem. A perícia vinha da experiência de fazer um filme, não<br />

de ler um livro sobre o assunto. A pessoa aprende a escrever escrevendo e<br />

refletindo sobre o que escreveu. Uma pessoa aprende a escrever com imagens<br />

fazendo-o e refletindo sobre o que ele criou.<br />

Essa gramática muda conforme a mídia muda. Quando existia apenas o<br />

filme, como Elizabeth Daley, diretora executiva do Centro Annenberg para<br />

Comunicações da Universidade do Sul da Califórnia e reitora da Escola de<br />

Cinema e Televisão da USC, me explicou, essa gramática era sobre “a colocação<br />

dos objetos, cores, (. . . ) ritmo , deslocamento e textura”. [36] Mas<br />

com os computadores abrindo um espaço interativo aonde a história é “contada”<br />

tanto quanto experenciada, a gramática muda. O simples controle<br />

da narrativa é perdido, e então fazem-se necessárias outras técnicas. O escritor<br />

Michael Crichton se especializou na narrativa de ficção científica. Mas<br />

quando ele tentou criar um jogo de computador baseado em uma de suas<br />

obras, ele teve que aprender toda uma nova forma de fazer as coisas. Como<br />

guiar as pessoas através de um jogo sem a sensação de que elas estão sendo

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