Lawrence_Lessig_-_Cultura_Livre
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e Julieta estaria livre em 1731. Então por que ela ainda estava sobre controle<br />
de Tonson em 1774?<br />
A razão é que os ingleses ainda não tinham chegado a uma conclusão<br />
do que definia “copy-right” — de fato, ninguém ainda tinha chegado a tal<br />
conclusão. Na época em que os ingleses implantaram o Estatuto de Anne,<br />
não existiam outras legislações que regulamentassem o copyright. A última<br />
lei que regulamentava os distribuidores, o Licensing Act de 1662, expirou em<br />
1695. A lei dava aos distribuidores um monopólio sobre as publicações, como<br />
uma forma de facilitar para a Coroa o controle sobre o que era publicado.<br />
Mas após esse período, não houve mais nenhuma lei verdadeira que diziam<br />
aos distribuidores, ou “papelarias”, que eles detinham direitos exclusivos para<br />
imprimirem livros.<br />
Mas o fato de não haver nenhuma lei verdadeira não queria dizer a ausência<br />
total de leis. A tradição jurídica Anglo-Americana leva em consideração<br />
tanto as palavras dos legisladores quanto as dos juízes para definirem as normas<br />
que governam o modo como as pessoas deveriam se comportar. Nós<br />
chamamos as palavras dos legisladores de “leis” e as palavras dos juízes de<br />
“jurisprudência”. A jurisprudência definia o cenário no qual os legisladores<br />
legislavam; os legisladores, normalmente só podiam superar esse cenário se<br />
conseguissem passar uma lei que contornasse a jurisprudência. E portanto<br />
a real questão após os estatutos de licenciamento terem expirado era se a<br />
jurisprudência iria proteger o copyright, independentemente das leis.<br />
Essa questão era importante para os distribuidores, ou “livreiros” como<br />
eles eram chamados, por causa da competição estrangeira. Os escoceses,<br />
em especial, estavam cada vez mais publicando e exportando livros para a<br />
Inglaterra. Essa competição reduzia os ganhos do Conger, que reagiu pressionando<br />
o Parlamento para que ele passasse uma lei para dar novamente um<br />
controle exclusivo sobre a publicação. Essa exigência veio no fim das contas<br />
a dar origem ao Estatuto de Anne.<br />
O Estatuto de Anne dava ao autor ou “proprietário” de um livro um<br />
direito exclusivo de publicar aquele livro. Uma limitação importante, porém,<br />
para horror dos livreiros, era que a lei dava ao livreiro o direito apenas por um<br />
certo período. No final desse período, o copyright “expirava” e a obra então<br />
era livre e poderia ser publicada por qualquer um. Ou assim acredita-se que<br />
os legisladores imaginaram.<br />
Agora, a coisa que nos confunde um pouco é a seguinte: porque o Parlamento<br />
deveria limitar os direitos exclusivos? Porque eles não limitaram os<br />
poderes mas sim a duração?<br />
Para os livreiros, e os autores que eles representavam, esse era um apelo<br />
muito forte. Tome como exemplo Romeu e Julieta: essa peça foi escrita por<br />
Shakespeare. Foi sua genialidade que trouxe-a para o mundo. Ele não tomou<br />
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