Lawrence_Lessig_-_Cultura_Livre
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Os defensores do copyright estão certos: um copyright é uma espécie de<br />
propriedade, que possui um dono, pode ser vendida, e que é protegida por<br />
lei contra roubo. Normalmente, o dono do copyright pode pedir o que ele<br />
quiser pelo copyright. Os mercados regulam parcialmente tal preço pelas leis<br />
de oferta e demanda.<br />
Mas de certa forma, falar que copyright é um direito à propriedade é um<br />
pouco errôneo, já que o copyright é um tipo diferente de propriedade. De fato,<br />
a própria noção de propriedade sobre uma idéia ou sobre uma expressão de<br />
uma idéia é muito estranha. Eu entendo que eu tomo algo quando pego, por<br />
exemplo, a mesa de picnic que você instalou em seu quintal. Estou pegando<br />
algo, a mesa de picnic, e após eu fazer isso, você não a tem mais. Mas o<br />
que eu tomo quando pego a boa idéia que você teve de colocar uma mesa de<br />
picnic no seu quintal — por exemplo, indo nas Casas Bahia, comprando uma<br />
mesa e colocando-a no meu quintal? O que é que eu estou tomando?<br />
A questão não é relacionada apenas com a existência das mesas de picnic<br />
contra as das idéias, embora isso envolva uma diferença importante. O ponto<br />
porém é que no caso comum — de fato, em praticamente todas as situações<br />
exceto por uma curtíssima faixa de exceções — as idéias são divulgadas<br />
ao mundo são livres. Eu não tomo nada de você quando eu copio o seu<br />
jeito de se vestir — embora isso possa parecer bizarro, ainda mais se você<br />
for uma mulher. De fato, como Thomas Jefferson disse (e isso parece ser<br />
especialmente verdadeiro quando copio o jeito que os outros se vestem) —<br />
“Aqueles que recebem uma idéia minha, recebem eles próprios informações<br />
sem me prejudicarem em nada; aqueles sobre quem as luzes que eu criei<br />
brilham, recebem luz sem me obscurecer.” [96]<br />
As exceções ao uso livre são idéias e expressões que estão ao alcance das<br />
leis de patentes e de direitos autorais, e alguns outros domínios sobre os quais<br />
não tratarei aqui. Aqui a lei afirma que você não pode tomar minha idéia ou<br />
expressão sem permissão: a lei transforma o intangível em propriedade.<br />
Mas como, e até que ponto, e de que forma — os detalhes, em outras<br />
palavras — isso acontece. Para ter-se uma boa noção de como essa prática<br />
de tornar o intangível em propriedade surgiu, precisamos colocar essa “propriedade”<br />
em seu contexto adequado. [97] Minha estratégia para fazer isso<br />
será a mesma da parte anterior. Eu vou oferecer quatro histórias que ajudarão<br />
a situar o contexto da idéia de que “material sob copyright é propriedade”.<br />
Como surgiu essa idéia? Quais são seus limites? Como ela funciona na<br />
prática? Após essas histórias, a significância dessa idéia de que “material sob<br />
copyright é propriedade” — ficará um pouco mais clara, e suas implicações<br />
irão revelar-se um tanto diferentes das implicações nas quais os ativistas do<br />
copyright nos querem fazer acreditar.