Lawrence_Lessig_-_Cultura_Livre
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pela comunidade, não (ou pelo menos não apenas) pelo estado. Não existem<br />
leis contra cuspir no chão, mas isso não significa que você não será punido se<br />
você cuspir no chão enquanto estiver esperando para ver um filme. A punição<br />
pode não ser dura, mas como isso é definido pela comunidade, ela pode ser<br />
muito bem mais dura do que a maioria das punições estabelecidas pela lei.<br />
A diferença, porém, não está relacionada com a firmeza da regra, mas com a<br />
fonte da garantia de cumprimento da mesma.<br />
O mercado é um terceiro tipo de restrição. Suas restrições são realizadas<br />
por condições: Você pode fazer X se você pagar Y; você receber M se fizer N.<br />
Essas restrições não são, claro, independentes da lei — é a lei de propriedade<br />
que define o que pode ser legalmente comprado e vendido e como; são as<br />
normas que definem o quando é justo ser pago. Mas dado um determinado<br />
conjunto de normas, e um retrospecto de leis de contrato e de propriedade,<br />
o mercado impõe uma restrição simultânea sobre como um indivíduo ou um<br />
grupo deve se comportar.<br />
Finalmente, e no momento, talvez, mais misteriosamente, “arquitetura”<br />
— o mundo real aonde as pessoas se encontram — é uma restrição ao comportamento.<br />
Uma ponte caída pode restringir sua habilidade de atravessar<br />
um rio. Estradas de ferro podem restringir a capacidade de uma comunidade<br />
de integrar-se socialmente. Como no caso do mercado, a arquitetura<br />
não provoca suas restrições através de punições ex post. De fato, também<br />
como no caso do mercado, a arquitetura provoca suas restrições através de<br />
condições simultâneas. Essas condições não são impostas por cortes que<br />
garantem contratos ou pela polícia punindo roubos, mas pela natureza, pela<br />
“arquitetura”. Se uma pedra de 250 quilos bloqueia seu caminho, é a lei da<br />
gravidade que garante esse impedimento. Se uma passagem aérea de 500<br />
dólares está entre você e um vôo para Nova Iorque, é o mercado que garante<br />
essa restrição.<br />
Portanto o primeiro ponto sobre essas quatro modalidades de regulamentação<br />
é obvio: elas interagem ente si. Restrições impostas por uma podem<br />
ser reforçadas ou minadas por outra.<br />
O segundo ponto aparece logo em seguida: se desejarmos entender a liberdade<br />
efetiva que alguém tem a um certo momento para fazer uma certa coisa<br />
qualquer, precisamos considerar como essas quatro modalidades interagem<br />
entre si. Haja ou não outras restrições (podem haver; não acredito que essas<br />
esteja completa), essas quatro estão entre as mais significativas, e qualquer<br />
regulador (quer esteja aumentando ou reduzindo o controle) precisa considerar<br />
como essas quatro restrições em particular interagem.<br />
Portanto, por exemplo, consideremos a “liberdade” de dirigir um carro<br />
em alta velocidade. Essa liberdade é em parte restringida pelas leis: limites<br />
de velocidade que dizem o quão rápido você pode guiar em certos locais em