Lawrence_Lessig_-_Cultura_Livre
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145 “Propriedade”<br />
um intruso. Ao menos alguns poderiam afirmar que tais usos seriam bons.<br />
Ela, também, é uma tecnologia que pode permitir usos bons e ruins.<br />
O ponto óbvio da caricatura de Conrad é a estranheza de um mundo<br />
aonde armas são legais, embora possam causar danos, enquanto videocassetes<br />
(e tecnologias de contorno) são ilegais. Resumo da idéia: Ninguém jamais<br />
morreu por causa de contornos de proteção de copyright. Mesmo assim a lei<br />
proíbe totalmente as tecnologias de contorno, apesar de seu potencial para<br />
fazer coisas boas, mas permite armas, apesar dos danos tragicamente óbvios<br />
que elas podem provocar.<br />
Os exemplos do Aibo e da RIAA demonstram como os detentores do<br />
copyright estão mudando o equilíbrio que a lei de copyright garante. Usando<br />
códigos, os donos do copyright restringem o uso justo; usando a DMCA,<br />
eles punem aqueles que tentam evadir-se das restrições ao uso justo imposto<br />
pelos códigos. A tecnologia se torna um meio pelo qual o uso justo pode ser<br />
eliminado, e a lei da DMCA apóia tal eliminação.<br />
Essa é a forma através da qual códigos se tornam leis. Os controles embutidos<br />
nas tecnologias de proteção contra acesso e cópia tornam-se regras cuja<br />
violação também torna-se violação contra a lei — aumentando sua regulamentação,<br />
mesmo se o alvo de tais regulamentações (atividades que de outra<br />
maneira seriam claramente consideradas uso justo) está alem dos limites da<br />
lei. O código torna-se a lei; o código amplia a lei; o código portanto amplia<br />
o controle que os detentores do copyright possuem — ao menos para aqueles<br />
detentores de copyright que possuem advogados suficientes para escreverem<br />
as cartas indecentes que tanto Felten quanto o aibopet.com receberam.<br />
Existe ainda um último aspecto na interação entre arquitetura e lei que<br />
contribui para a força da regulamentação do copyright. É a facilidade com<br />
a qual as violações à lei passam a ser detectadas. Ao contrário da retórica<br />
comum no nascimento do ciberespaço que dizia que na Internet ninguém<br />
sabe se você é um cachorro, cada vez mais, dados às mudanças tecnológicas<br />
desdobradas dentro da Internet, é fácil pegar o cachorro que está cometendo<br />
uma violação à lei. As tecnologias da Internet estão abertas tanto aos bisbilhoteiros<br />
quanto aos compartilhadores, e os bisbilhoteiros estão cada vez<br />
melhores em descobrir a identidade daqueles que violam as regras.<br />
Por exemplo, imagine que você faz parte de um fã-clube de Jornada nas<br />
Estrelas. Vocês se reúnem todos os meses para compartilharem perguntas,<br />
e talvez para atuarem em algum tipo de fan-fiction. 13 Uma pessoa poderia<br />
fazer o papel de Spock e outra o do Capitão Kirk. Os personagens poderiam<br />
13 NT: fan-fictions são histórias criadas por fãs de uma determinada série de ficção ou<br />
fantasia, como Jornada nas Estrelas, Harry Potter ou Senhor dos Anéis, aonde os fãs<br />
criam histórias alternativas, usando os mesmos personagens, cenários e situações da série,<br />
e acrescentando novos personagens, cenários e situações