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104<br />

Susana Margarita Speroni<br />

lembradas constantemente, evocam momentos do passado que não se questionam<br />

e adquirem status de mito, tamanha a energia que emanam. Assim, os aspectos da<br />

utopia que se concretizam na forma institucional das universidades comunitárias<br />

busca definir uma identidade caracterizada por aspectos contraditórios, quiméricos<br />

na sua essência, mas com força legitimadora ainda suficiente para justificar as<br />

próprias contradições.<br />

Zygmunt Bauman, no seu livro Comunidade: a busca de segurança no mundo<br />

atual, nos lembra questões importantes para a nossa discussão. Em relação ao mito<br />

ele afirma que:<br />

Os mitos não são histórias divertidas. Seu objetivo é ensinar por meio da<br />

reiteração sem fim da sua mensagem: um tipo de mensagem que os<br />

ouvintes só podem esquecer ou negligenciar se quiserem. (2003, p. 14).<br />

No que se refere à identidade, o autor coloca que:<br />

Uma vida dedicada à procura de identidade é cheia de som e de fúria.<br />

“Identidade” significa aparecer: ser diferente e, por essa diferença, singulare<br />

assim, a procura da identidade não pode deixar de dividir e separar.E no<br />

entanto a vulnerabilidade das identidades individuais e a precariedade da<br />

solitária construção da identidade levam os construtores da identidade a<br />

procurar cabides em que possam, em conjunto, pendurar seus medos e<br />

ansiedades individualmente experimentados e, depois disso, realizar os<br />

ritos de exorcismo em companhia de outros indivíduos também assustados<br />

e ansiosos (p. 21).<br />

Dessa forma, o mito criador, ao expandir o efeito legitimador do discurso<br />

institucional, auxilia os atores institucionais a buscar os cabides necessários para<br />

pendurar as contradições vivenciadas entre o que se fala, e o que se faz no<br />

cotidiano, diminui as incertezas decorrentes das tensões entre os valores<br />

comunitários e os valores gerenciais e de mercado. A lembrança da comunidade<br />

como lugar cálido, acolhedor e protegido do qual se sente falta, do tipo de “mundo”<br />

que não está ao nosso alcance, do paraíso que foi perdido frente às necessidades<br />

de expansão que a reprodução institucional exige.<br />

No contexto de evocação do mito criador foi possível que, em diversos<br />

momentos históricos, soluções institucionais fossem implementadas, mesmo<br />

implicando perdas de conquistas e de salários, sacrifícios coletivos necessários<br />

para impedir a insustentabilidade institucional.<br />

Comunidade, essa, onde, talvez, seja necessário pendurar no cabide as<br />

questões relacionadas à democracia percebida por alguns entrevistados como uma<br />

ameaça institucional, um processo perigoso que torna a universidade morosa nas<br />

suas decisões ou ameaça o controle de grupos que se mantêm no poder por<br />

décadas como mostrado, principalmente, pela história de uma das instituições<br />

estudadas.

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