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Planejamento, gestão democrática e integração regional 31<br />
objeto construído 15 onde os campos das práticas e dos discursos são inventariados<br />
em seu sentido e coerência, vis-à-vis às estruturas sedimentadas, sua lógica interna<br />
de funcionamento e seus princípios orientadores. Nesse sentido, as inferências não<br />
se restringem à exclusividade das funções ou das estruturas, ou do agenciamento<br />
dos indivíduos; busca-se reduzir, assim, a solidão e a incompletude das<br />
dissociações entre agência e estrutura, que o neoinstitucionalismo tem conseguido<br />
em sua agenda de pesquisa com sucessos variáveis. (SMITH, 2005; GOODIN,<br />
2003).<br />
No caso específico do objeto em pauta, particularmente no caso desta tese, a<br />
discursividade toma vulto, em grande medida, pela perspectiva adotada: a do<br />
discurso político, via tradição francesa da Análise do Discurso (AD), principalmente<br />
através da obra de Patrick Charaudeau (2006). Ao reproduzir as palavras do autor,<br />
estão dadas as coordenadas deste artigo em suas questões mais centrais:<br />
[...] convém tentar definir a problemática geral na qual será construído e<br />
estudado [o] objeto. Aqui, mais particularmente, trata-se de tomar posição<br />
quanto às relações entre linguagem, ação, poder e verdade, afim de<br />
determinar a problemática particular na qual será estudado o discurso<br />
político. (2006, p. 16)<br />
Partindo da análise de um campo muito amplo – o da palavra que envolve os<br />
percursos da ação social, que inclui relações de poder de diversas naturezas – o<br />
autor define antecipadamente sobre que eixo vai vasculhar seu objeto, situando-o<br />
necessariamente sobre a tensão discurso e ação, onde a verdade que evoca, sofre<br />
pelo seu estatuto de nível da abstração e relativismo, de imensa dificuldade para ser<br />
compreendida – e mesmo avaliada, na medida em que o campo da política,<br />
segundo define o autor, não passa de um imenso teatro. Sabedor disso tudo,<br />
Charaudeau direciona sua démarche para noções de maior aproximação empírica<br />
como a veracidade dos discursos.<br />
O discurso político compreende uma forma de comunicação singular, em que<br />
sobressaem algumas características: delimitar um campo de relações –<br />
governantes e governados, soberanos e submetidos, permitir/exigir formulações<br />
ambíguas e flexibilidade, lidar com expectativas e desejos, pretender o<br />
convencimento ou resignação.<br />
Nele estão contidos, e o constituem, ingredientes que Habermas (1987) define<br />
como constitutivos da ação dramatúrgica, tipificadora dessa modalidade de<br />
discurso. Charaudeau chama a atenção para as exigências e consequências de tais<br />
características:<br />
15<br />
BOURDIEU, P. , CHAMBOREDON, J-C, PASSERON, J-C, El Oficio de Sociólogo. Presupuestos<br />
Epistemológicos. 5ª. Ed. México: Siglo Veinteuno, 1981. cap. 2. “La construcción del objeto. El<br />
hecho se construye: Las formas de la renuncia empirista. Um quase manifesto contra uma<br />
sociologia ingênua ou espontânea – que confunde tema com objeto -, ou seja, que assume “el<br />
imperativo científico de la subordinación al hecho [fato que] desemboca en la renuncia pura y<br />
simple ante al dato”. p. 66.