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Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />

a história do capitão Lamarca. Na <strong>ver<strong>da</strong>de</strong>, a tese do suicídio resultou <strong>da</strong> interpretação que os autores do livro Lamarca – o capitão <strong>da</strong><br />

guerrilha deram aos depoimentos feitos por Olival Barreto, com 10 anos, e José Tadeu, 16, respectivamente irmão e primo de Otoniel, que<br />

estavam escondidos debaixo <strong>da</strong> cama no quarto onde se encontrava Luiz Antonio. Relatam que o viram armado, atrás <strong>da</strong> porta, escutaram<br />

um tiro e viram seu corpo cair. Não há qualquer documento que registre a morte, que cite o horário, quem encontrou o corpo. A versão<br />

oficial divulga<strong>da</strong> nos jornais, conti<strong>da</strong> na requisição de exame ao IML, assina<strong>da</strong> pelo coronel Luís Arthur de Carvalho e repeti<strong>da</strong> no relatório<br />

do Exército de 1993, foi de que morrera em confronto. O relator argumentou que Santa Bárbara não estava sob a guar<strong>da</strong> dos agentes, que<br />

ain<strong>da</strong> não teriam assumido o controle total <strong>da</strong> área para que fosse caracteriza<strong>da</strong> como “dependência policial ou assemelha<strong>da</strong>”. E considerou<br />

que as duas hipóteses – suicídio ou morte em confronto – não eram abrangi<strong>da</strong>s pela Lei nº 9.140/95, sendo o processo indeferido.<br />

Um recurso apresentado pela família também foi indeferido, ocasionando pedido de vistas de Nilmário Miran<strong>da</strong>, que acrescentou novo<br />

depoimento de Olival e José Tadeu, detalhando o ocorrido. Considerou em seu parecer que o local já estava sob controle <strong>da</strong> força policial,<br />

que acabara de matar Otoniel e prender Olderico e José Barreto. Agregou que a família, ao receber o corpo, vira que sua mão estava vaza<strong>da</strong><br />

por um disparo, <strong>da</strong> palma para o dorso <strong>da</strong> mão direita, o que fora relatado no depoimento na Comissão de <strong>Direito</strong>s Humanos <strong>da</strong> Câmara<br />

dos Deputados, em 17/10/1996, pelo agente <strong>da</strong> Polícia Federal Paulo Roberto Silva Lima, perfuração essa que enfraquece a tese de suicídio<br />

por disparo de uma pessoa que era destra e, mais ain<strong>da</strong>, permite supor o gesto instintivo de defesa de quem está prestes a ser baleado <strong>à</strong><br />

queima-roupa. No entato, esses argumentos não convenceram a maioria <strong>da</strong> CEMDP, que votou pelo indeferimento.<br />

Dessa forma, a <strong>ver<strong>da</strong>de</strong> dos fatos não pode ser restabeleci<strong>da</strong> e o processo de Luiz Antonio somente foi aprovado com a Lei nº 10.875/04,<br />

que ampliou os benefícios <strong>da</strong> Lei nº 9.140/95, ampliando a abrangência <strong>da</strong>s circunstâncias de morte. O cadáver de Otoniel, sepultado no<br />

cemitério local, foi exumado no dia seguinte e transportado para Salvador. Desde então, seu corpo foi <strong>da</strong>do pela família como desaparecido,<br />

razão pela qual requereu também sua localização e traslado para o cemitério onde foi sepultado logo após a morte.<br />

CARLOS LAMARCA (1937-1971)<br />

Número do processo: 038/96<br />

Filiação: Antônio Lamarca e Gertrudes <strong>da</strong> Conceição Lamarca<br />

Data e local de nascimento: 27/10/1937, Rio de Janeiro<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: VPR/MR-8<br />

Data e local <strong>da</strong> morte: 17/09/1971, Brotas de Macaúbas (BA)<br />

Relator: Paulo Gustavo Gonet Branco, com vistas de Nilmário Miran<strong>da</strong> e Suzana Keniger Lisbôa<br />

Deferido em: 11/09/1996 por 5x2 (votos contra do general Oswaldo Pereira Gomes e Paulo Gustavo Gonet Branco)<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: 18/09/1996<br />

JOSÉ CAMPOS BARRETO (1946-1971)<br />

Número do processo: 273/96<br />

Filiação: Adelaide Campos Barreto e José de Araújo Barreto<br />

Data e local de nascimento: 02/10/1946, Bahia<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: VPR/MR-8<br />

Data e local <strong>da</strong> morte: 17/09/1971, Brotas de Macaúbas (BA)<br />

Relator: Paulo Gustavo Gonet Branco<br />

Deferido em: 11/09/1996 por 5x2 (votos contra do general Oswaldo Pereira Gomes e Paulo Gustavo Gonet Branco)<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: 18/09/1996<br />

Carlos Lamarca, o capitão do Exército que se engajou na luta arma<strong>da</strong> contra o regime militar, assumiu características de um mito que<br />

angariou paixões e ódios. Foi executado no sertão <strong>da</strong> Bahia, em 17/09/1971, sem condições de opor resistência <strong>à</strong> prisão. Com ele, foi morto<br />

José Campos Barreto, conhecido como Zequinha naquela sua região, e como Barreto na greve metalúrgica de Osasco, em 1968.

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