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Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />

Pedro Bezerra <strong>da</strong> Silva, trabalhador rural e companheiro em uma <strong>da</strong>s prisões, declarou que Amaro Félix foi visto certo dia, de madruga<strong>da</strong>,<br />

depois que fora solto pela última vez e desaparecera. Estava dentro de um jipe de placa branca, que estacionou em uma oficina de carros<br />

para conserto. Amaro Félix estava deitado debaixo do banco, amarrado por correntes, sendo escoltado por policiais, quando visto pelo<br />

motorista e por funcionários <strong>da</strong> oficina.<br />

Outros depoimentos confirmam as perseguições e as ameaças de morte que sofria Amaro Félix. Elias, o filho mais velho, declara que também<br />

foi preso e espancado pela polícia e por capangas <strong>da</strong> Usina Central Barreiros. Afirma que do pai a família somente ouviu rumores de que<br />

seu corpo teria sido jogado dentro <strong>da</strong> caldeira <strong>da</strong> Usina ou no Rio Una.<br />

A CEMDP acolheu por unanimi<strong>da</strong>de o voto <strong>da</strong> relatora propondo deferimento do pedido.<br />

ESMERALDINA CARVALHO CUNHA (1922-1972)<br />

Número do processo: 142/04<br />

Data e local de nascimento: 01/04/1922, Araci (BA)<br />

Filiação: Menervina Carvalho Cunha e Cândido de Sena Cunha<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: denúncia <strong>da</strong> morte <strong>da</strong> filha como resultado de torturas<br />

Data e local <strong>da</strong> morte: 20/10/1972, Salvador (BA)<br />

Relator: Maria Eliane Menezes de Farias<br />

Deferido em: 02/06/2006 por unanimi<strong>da</strong>de<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: 13/7/2006<br />

Esmeraldina Carvalho Cunha foi encontra<strong>da</strong> morta na sala de sua casa, em Salvador (BA), no dia 20/10/1972, aos 49 anos. O corpo estava<br />

pendurado num fio de máquina elétrica.<br />

Esmeraldinha fora casa<strong>da</strong> com Tibúrcio Alves Cunha Filho, com quem teve cinco filhas. A mais nova, Nil<strong>da</strong> Carvalho Cunha, conforme já<br />

relatado neste livro, tinha morrido um ano antes, em 14/11/1971, após dois meses de prisão e torturas em Salvador. A filha Leônia foi mi-<br />

litante do PCB e <strong>da</strong> POLOP. Lúcia também chegou a ser presa, mas foi logo solta. A mais velha, Lourdes foi cruelmente assedia<strong>da</strong> durante<br />

muito tempo por agentes do Exército, o que lhe causou sérios problemas emocionais e comportamentais. Esmeraldina, mãe exemplar, se-<br />

para<strong>da</strong> do marido, lutava pela vi<strong>da</strong> de suas filhas militantes. A dor pela morte de sua caçula, Nil<strong>da</strong>, a transtornou, mas seu suposto suicídio<br />

sempre foi questionado pela família.<br />

Nil<strong>da</strong> fora presa na madruga<strong>da</strong> de 20/8/1972, junto com Jaileno Sampaio, seu namorado, na casa onde foi morta Iara Iavelberg,<br />

conforme descrito na chama<strong>da</strong> “Operação Pajuçara”, organiza<strong>da</strong> pelos órgãos de segurança para capturar Lamarca. Assim que soube<br />

<strong>da</strong> prisão <strong>da</strong> filha, Esmeraldina revirou a Bahia. Procurava os coman<strong>da</strong>ntes militares, o juiz de menores, advogados, tentava romper a<br />

incomunicabili<strong>da</strong>de imposta pelo regime. Só conseguiu vê-la tempos depois, na Base Aérea de Salvador. Encontrou a filha em estado<br />

lastimável pelas torturas.<br />

Esmeraldina enfrentou, por duas vezes, o major Nilton de Albuquerque Cerqueira, um dos carcereiros <strong>da</strong> filha, conforme relata o livro La-<br />

marca, o capitão <strong>da</strong> guerrilha, de Emiliano José e Ol<strong>da</strong>ck Miran<strong>da</strong>. Da primeira vez, o major tentou impor como condição para a soltura de<br />

Nil<strong>da</strong>, que a mãe voltasse a viver com o ex-marido, o que não se concretizou e quase impediu a liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> filha. Da segun<strong>da</strong> vez, o major<br />

esteve no quarto de hospital em que Nil<strong>da</strong>, já em liber<strong>da</strong>de, estava interna<strong>da</strong> para tratamento. Sua presença e ameaças de retorno <strong>à</strong> prisão<br />

agravaram o estado de Nil<strong>da</strong>, que morreu dias depois, em circunstâncias nunca esclareci<strong>da</strong>s.<br />

Esmeraldina não suportou a morte prematura <strong>da</strong> filha caçula, entrou em depressão profun<strong>da</strong> e foi interna<strong>da</strong> no Sanatório Ana Nery. Ao sair,<br />

passou a buscar desespera<strong>da</strong>mente as pessoas que poderiam esclarecer o que ocorrera com Nil<strong>da</strong> - seu médico, que viajara para a Europa,

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