Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça
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io, assegurando alguma penetração no ME (ME) desmobilizado,<br />
estruturando bases entre intelectuais e assegurando uma presença<br />
estacionária em determina<strong>da</strong>s áreas de luta sindical. Publica re-<br />
gularmente seu órgão oficial, o Voz Operária, com a persistente<br />
propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong> “derrota <strong>da</strong> ditadura militar“ por meios institucio-<br />
nais, palavra-de-ordem que acabava contendo um significado de<br />
contraposição aos grupos marxistas situados mais <strong>à</strong> esquer<strong>da</strong>, que<br />
sustentavam a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> “derruba<strong>da</strong> <strong>da</strong> ditadura”.<br />
Ao contrário do demais partidos marxistas, que nos primeiros 10<br />
anos de Regime Militar lutaram pelo boicote <strong>à</strong> ativi<strong>da</strong>de parla-<br />
mentar, denunciando seu caráter facha<strong>da</strong>, o PCB fez-se presente<br />
desde o primeiro momento nas ativi<strong>da</strong>des do MDB, conseguindo<br />
eleger por intermédio dessa legen<strong>da</strong> alguns parlamentares vincu-<br />
lados a suas propostas partidárias. Quando em 1974 a socie<strong>da</strong>de<br />
civil reformula seu procedimento predominante na fase anterior<br />
de abstencionismo eleitoral, e opta pelo fortalecimento do MDB,<br />
nota-se que o PCB pode ser apontado, no amplo espectro <strong>da</strong> es-<br />
quer<strong>da</strong> clandestina, como o único partido que teve seu aparelho<br />
orgânico preservado quase intacto na escala<strong>da</strong> pós AI-5, além de<br />
considerar-se fortalecido “moralmente” com relação aos grupos<br />
que se lançaram a luta arma<strong>da</strong>.<br />
Mas <strong>à</strong> medi<strong>da</strong> que o aparelho repressivo constata ter assegurado<br />
um controle seguro sobre a ação <strong>da</strong>s organizações arma<strong>da</strong>s e dos<br />
grupos marxistas tido como radicais, volta-se para a aplicação de<br />
um plano de aniquilamento do PCB. No triênio 74/76 o PCB é vítima<br />
de feroz repressão em todo o país, enfrentando sucessivas on<strong>da</strong>s de<br />
prisões e processos com dezenas e centenas de réus. Parte importante<br />
de seus dirigentes nacionais é assassina<strong>da</strong> nos porões <strong>da</strong> repressão<br />
política do regime, sem que as autori<strong>da</strong>des assumissem qualquer res-<br />
ponsabili<strong>da</strong>de sobre uma série de “desaparecimentos”. Nessas seqüên-<br />
cias de prisões, seriam assassinados sob tortura no DOI-CODI de São<br />
Paulo o jornalista Wladimir Herzog, em outubro de 1975, e o operário<br />
Manoel Fiel Filho, em janeiro de 1976, o que gerou forte reação <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de civil e até mesmo uma crise no governo Geisel, que deixou<br />
feri<strong>da</strong>s na uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s.<br />
PCdoB - Partido Comunista do Brasil<br />
É comum apontar como marco de seu nascimento a realização<br />
de uma “conferência Nacional Extraordinária” pelos dissidentes do<br />
PCB alinhados com João Amazonas, em fevereiro de 1962, em São<br />
Paulo, que resultou no lançamento do novo partido e aprovação<br />
de seu “Manisfesto-Programa”. Cabe registrar, entretanto, que o<br />
PCdoB sempre reivindicou ser o continuador do autêntico do par-<br />
tido fun<strong>da</strong>do em 1922, apontando a <strong>da</strong>ta de 1962 como um mero<br />
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COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />
momento de “reorganização”. Em março de 1962 o PCdoB retomou<br />
a publicação de A Classe Operária, órgão fun<strong>da</strong>do em 1925 e que<br />
tivera sua edição interrompi<strong>da</strong>.<br />
Até 1964 apresenta linha de atuação marca<strong>da</strong> por uma postura <strong>à</strong><br />
esquer<strong>da</strong> do PCB, embora limita<strong>da</strong> pelo reduzido porte de seu qua-<br />
dro partidário e pela necessária concentração de esforços nas tare-<br />
fas de organização interna. Sua proposta programática não modificou<br />
substancialmente a análise sustenta<strong>da</strong> pelo partido na fase anterior á<br />
cisão. No campo <strong>da</strong> estratégia, no entanto, desde o primeiro momento<br />
o PCdoB desfechou intransigente crítica á linha pacífica do PCB e, aos<br />
poucos, foi se compondo um pensamento global a respeito de como<br />
deveria se desenrolar a luta revolucionária no país.<br />
Após o golpe de 1964, o PCdoB ampliou sua área de influência estru-<br />
turando algumas bases operárias, implantando-se no meio estu<strong>da</strong>ntil<br />
e enviando <strong>à</strong> China Popular uma equipe de quadros que passaria por<br />
estudos teóricos e adestramento militar para, em segui<strong>da</strong>, deslocar tais<br />
militantes especializados para zonas rurais do Brasil. Adota, portanto,<br />
a fórmula maoísta do “cerco <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des pelo campo” e combate o<br />
debraysmo que influenciava outros grupos clandestinos, tachando-os<br />
como ideologia pequeno-burguesa por negar a necessi<strong>da</strong>de de um<br />
partido leninista para conduzir a guerra revolucionária.<br />
Em 1966 é realiza<strong>da</strong> a “VI Conferência” do PCdoB, que apesar de<br />
aprovar a transferência do centro de gravi<strong>da</strong>de do trabalho do par-<br />
tido para a área rural, funcionou como estopim de uma luta in-<br />
terna de setores que não confiavam nos propósitos <strong>da</strong> direção em<br />
efetivamente passar á preparação <strong>da</strong> luta arma<strong>da</strong>. O documento<br />
aprovado nessa Conferência - “União dos brasileiros para livrar o<br />
país <strong>da</strong> ditadura e <strong>da</strong> ameaça neocolonialista” - é qualificado de<br />
oportunista e vacilante por numerosas bases estu<strong>da</strong>ntis e setores<br />
provenientes <strong>da</strong>s antigas Ligas Camponesas. Tal luta resultou, no<br />
nordeste, no surgimento de uma dissidência intitula<strong>da</strong> PCR – Par-<br />
tido Comunista Revolucionário -, enquanto em São Paulo e outros<br />
estados do centro–sul nasceu a Ala Vermelha do PCdoB.<br />
De 1968 em diante, o PCdoB conseguiu desenvolver um trabalho de<br />
aproximação com a AP, terminando por recompor, com vantagens,<br />
as per<strong>da</strong>s sofri<strong>da</strong>s naquelas duas cisões. Do alinhamento comum<br />
com as posições chinesas nasceu uma aliança entre a AP e o PCdoB<br />
no ME que evoluiu para uma aproximação de suas estruturas orgâ-<br />
nicas. Após um controvertido e tenso processo de discussão sobre a<br />
junção <strong>da</strong>s duas organizações, o PCdoB terminou absorvendo para<br />
suas fileiras, em 1972, a parcela majoritária <strong>da</strong> AP, potencializando<br />
a intervenção política <strong>à</strong> escala nacional.