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Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE<br />

nos arquivos do DOPS/SP, mostra que, em pleno verão, José Milton trajava roupa pesa<strong>da</strong>, com grossa japona de lã e calça de veludo, tendo<br />

o pescoço suspeitamente envolto em lenço ou cachecol, com a possível intenção de acobertar sinais de violência. Mesmo assim, a foto<br />

permite visualizar, com nitidez, os ferimentos que provavelmente causaram o edema registrado no laudo: lesões e equimoses no nariz, canto<br />

do olho esquerdo, queixo e testa, estranhamente não descritos no laudo.<br />

Apresentado o voto pela aprovação do requerimento em 19/11/1996, o general Oswaldo Pereira Gomes manifestou-se pelo indeferimento<br />

e Paulo Gustavo Gonet Branco pediu vistas dos autos. O processo voltou <strong>à</strong> pauta em 10/04/1997 e o revisor estabeleceu uma comparação<br />

entre as fotografias do corpo e o laudo necroscópico que, embora minucioso, não fazia qualquer referência aos visíveis ferimentos em<br />

diversas partes do rosto. Com o argumento de que, “as fotografias emprestam significado relevante <strong>à</strong> demora ocorri<strong>da</strong> entre o momento<br />

<strong>da</strong> morte e o <strong>da</strong> entrega do corpo ao IML, certo de que a polícia, neste período tinha o domínio <strong>da</strong> situação e ain<strong>da</strong> que transmitem, de igual<br />

sorte, importância <strong>à</strong> indicação de nome equivocado do cadáver e subseqüente enterro sob o mesmo nome incorreto”, Paulo Gustavo Gonet<br />

Branco acompanhou o voto <strong>da</strong> relatora.<br />

CARLOS EDUARDO PIRES FLEURY (1945-1971)<br />

Número do processo: 168/96<br />

Filiação: Maria Helena Dias Fleury e Hermano Pires Fleury Junior<br />

Data e local de nascimento: 05/01/1945, São Paulo (SP)<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: MOLIPO<br />

Data e local <strong>da</strong> morte: 10/12/1971, no Rio de Janeiro (RJ)<br />

Relator: Nilmário Miran<strong>da</strong><br />

Deferido em: 18/03/1996 por unanimi<strong>da</strong>de<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: 21/03/1996<br />

Um dos principais dirigentes do MOLIPO, morto misteriosamente no Rio de Janeiro em 10/12/1971, Carlos Eduardo foi o segundo ex-preso político<br />

banido do país a ser executado depois de regressar ao Brasil para novo engajamento na resistência clandestina ao regime militar. Nascido na ca-<br />

pital paulista, tinha sido estu<strong>da</strong>nte de Filosofia na USP e, simultaneamente, de <strong>Direito</strong> na PUC/SP. Fora enviado <strong>à</strong> Argélia em junho de 1970, sendo<br />

um dos 40 presos políticos libertados em troca do embaixador alemão no Brasil, seqüestrado numa operação conjunta entre a VPR e a ALN.<br />

Sua prisão anterior, como subcoman<strong>da</strong>nte do Grupo Tático Armado <strong>da</strong> ALN, tinha ocorrido em São Paulo, em 30/09/1969. Naquela ocasião,<br />

foi torturado dias seguidos na OBAN. Transferido para o Presídio Tiradentes, escreveu uma carta ao seu antigo professor na Facul<strong>da</strong>de de<br />

<strong>Direito</strong> e ministro interino <strong>da</strong> <strong>Justiça</strong>, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, denunciando as torturas sofri<strong>da</strong>s por ele e por seus companheiros de<br />

prisão. Denunciou na mesma carta que Virgílio Gomes <strong>da</strong> Silva, <strong>da</strong>do como desaparecido, tinha sido, na <strong>ver<strong>da</strong>de</strong>, assassinado a panca<strong>da</strong>s e<br />

choques no pau-de-arara, na antevéspera do seu próprio suplício.<br />

“Não vou enumerar exatamente o que sofri momento a momento, vou <strong>da</strong>r alguns exemplos dos métodos de interrogatórios que sofri: o pau-de-arara,<br />

telefone, choques na cabeça, nos órgãos sexuais e no resto do corpo todo como o mostram as cicatrizes que tenho até hoje. Os choques que levei no 2º<br />

dia de tortura foram de 220 volts e durante mais de cinco horas segui<strong>da</strong>s pendurado no pau-de-arara, o que me causou uma para<strong>da</strong> cardíaca. Quan-<br />

do isto ocorreu estavam chegando, naquele momento, na OBAN, os delegados do DOPS, Tucunduva, Fleury e Raul Ferreira. Foram estas pessoas que<br />

me fizeram voltar <strong>à</strong> vi<strong>da</strong>, através de massagem no coração, fricção com álcool pelo corpo, etc, pois o pessoal <strong>da</strong> OBAN deu-me como clinicamente<br />

morto. Esta sessão de cinco horas de 220 volts foi precedi<strong>da</strong> por uma tarde inteira de agressões e choques na cadeira do dragão, além de ter ficado<br />

na noite anterior <strong>da</strong>s 22h30 até 6h30 <strong>da</strong> manhã deste dia no pau-de-arara, levando choques”.<br />

Preferindo morrer a prosseguir naquelas sevícias, Carlos Eduardo inventou um encontro falso na aveni<strong>da</strong> Brigadeiro Luís Antônio, escapou dos agentes,<br />

entrou em uma loja, apossou-se de uma tesoura e a enfiou no peito, embora a lâmina não tenha atingido órgão vital. Levado para o Hospital <strong>da</strong>s Clíni-<br />

cas, recuperou-se e, conforme relata na carta ao ministro, voltou ao pau-de-arara e <strong>à</strong> cadeira do dragão quando levado de volta <strong>à</strong> prisão. A respeito de<br />

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