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Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

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manhã, Cazuza convenceu Vítor a permitir que ele fosse ao local onde,<br />

na véspera, ouvira o barulho. Vítor ain<strong>da</strong> insistiu que não se devia ir ao<br />

ponto, mas acabou concor<strong>da</strong>ndo. Ao se aproximar do local do barulho,<br />

Cazuza foi metralhado e morreu”.<br />

Naqueles mesmos dias, os guerrilheiros travaram outro combate<br />

com integrantes do Exército, em que morreram Francisco Manoel<br />

Chaves e José Toledo de Oliveira. Antônio Carlos foi ferido e<br />

levado para São Geraldo do Araguaia, onde teria sido torturado<br />

até a morte, na base do Exército. No relatório Arroyo consta que,<br />

“Como estivessem sem alimento, Vítor (José Toledo de Oliveira)<br />

resolveu ir <strong>à</strong> roça de um tal de Rodrigues, apanhar mandioca. Os<br />

companheiros disseram que lá não tinha mais mandioca. Vítor,<br />

porém insistiu. Quando se aproximavam <strong>da</strong> roça viram rastros de<br />

sol<strong>da</strong>dos. Então Vítor decidiu que os quatro deveriam esconder-se<br />

na capoeira, próxima <strong>à</strong> estra<strong>da</strong>, certamente para ver se os sol<strong>da</strong>dos<br />

passavam e depois então ir apanhar mandioca. Acontece que, no<br />

momento exato em que os sol<strong>da</strong>dos passavam pelo local onde eles<br />

estavam um dos companheiros fez um ruído acidental. Os sol<strong>da</strong>dos<br />

imediatamente metralharam os quatro. Dois morreram logo: Vítor<br />

e Zé Francisco (Francisco Manoel Chaves). Antônio foi gravemente<br />

ferido e levado para São Geraldo, onde foi torturado e assassinado.<br />

Escapou a companheira Dina, que sofreu um arranhão de bala no<br />

pescoço.(Provavelmente 21/09/72)”.<br />

21/09/72)”<br />

Ex-diretora <strong>da</strong> UNE, Helenira teria matado um militar antes de ser<br />

atingi<strong>da</strong> por uma raja<strong>da</strong> de balas, sendo presa feri<strong>da</strong>. No relatório<br />

Arroyo consta que: “No dia 29 de setembro, houve um choque<br />

MIGUEL PEREIRA DOS SANTOS (1943–1972)<br />

Número do processo: 103/96<br />

Filiação: Helena Pereira dos Santos e Pedro Francisco dos Santos<br />

Data e local de nascimento: 12/07/1943, Recife (PE)<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: PCdoB<br />

Data do desaparecimento: 20 ou 26 ou 27/09/1972<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: Lei nº 9.140/95 – 04/12/95<br />

| 209 |<br />

COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS<br />

O pernambucano Miguel começou a trabalhar quando tinha apenas 13 anos. Em 1964, mudou-se com a família para São Paulo e, nesse<br />

mesmo ano, concluiu o curso científico no Colégio de Aplicação <strong>da</strong> USP. Trabalhava no Banco Intercontinental do Brasil. Iniciou cedo sua<br />

participação na vi<strong>da</strong> política, filiando-se ao PCdoB. Em 1965, já teve de assumir militância clandestina devido <strong>à</strong> perseguição política. Em<br />

1968, agentes do DOPS, ao procurarem Miguel, interrogaram sua mãe, ocasião em que o delegado Wanderico mostrou-lhe fotocópias de<br />

documentos de Miguel que teriam sido envia<strong>da</strong>s pela Central Intelligence Agency – CIA -, dizendo que Miguel estivera na China. Por este<br />

motivo, a casa de sua mãe foi várias vezes invadi<strong>da</strong> pela polícia política.<br />

do qual resultou a morte de Helenira Resende (Helenira Resende de<br />

Souza Nazareth). Ela, juntamente com outro companheiro, estava<br />

de guar<strong>da</strong> num ponto alto <strong>da</strong> mata para permitir a passagem, sem<br />

surpresas, de grupos do destacamento. Nessa ocasião, pela estra<strong>da</strong><br />

vinham tropas. Como estas achassem a passagem perigosa, enviaram<br />

batedores para explorar a margem <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, precisamente<br />

onde se encontrava Helenira e o outro companheiro. Este, quando<br />

viu os sol<strong>da</strong>dos, acionou a metralhadora, que não funcionou. Ele<br />

correu e Helenira não se deu conta do que estava sucedendo. Quando<br />

viu, já os sol<strong>da</strong>dos estavam diante dela. Helenira atirou com<br />

uma espingar<strong>da</strong> 16. Matou um. O outro sol<strong>da</strong>do deu uma raja<strong>da</strong><br />

de metralhadora que a atingiu. Feri<strong>da</strong>, sacou o revólver e atirou no<br />

sol<strong>da</strong>do, que deve ter sido atingido. Foi presa e tortura<strong>da</strong> até a morte.<br />

Elementos <strong>da</strong> massa dizem que seu corpo foi enterrado no local<br />

chamado Oito Barracas”. Barracas”<br />

Referindo-se ao dia seguinte, continua o mesmo Relatório: “imediatamente<br />

ouviu-se uma raja<strong>da</strong>. Juca (João Carlos Haas) e Flávio (Ciro<br />

Fávio) caíram mortos. Raul (Antônio Teodoro de Castro) foi ferido no<br />

braço, escapando juntamente com Walk (Walquíria Afonso Costa).<br />

Gil (Manoel José) ain<strong>da</strong> se aproximou de Juca tentando reanimá-lo.<br />

Ocorreram novos disparos. Depois não se soube mais de Gil. Deve ter<br />

morrido. Raul e Walk, que não conheciam bem a região, vagaram durante<br />

dois meses pela mata até que se encontrarem novamente com os<br />

companheiros do destacamento B. (30/09/72)”<br />

Segue o registro individualizado desses oito casos de mortes/desaparecimentos<br />

correspondentes a setembro de 1972:<br />

Miguel residiu inicialmente na Praia Chata, norte de Goiás <strong>à</strong>s margens do Rio Tocantins e, posteriormente, no sul do Pará, na locali<strong>da</strong>de de<br />

Pau Preto, integrando o Destacamento C dos guerrilheiros. Segundo Regilena Carvalho Leão de Aquino, uma <strong>da</strong>s poucas sobreviventes do<br />

Araguaia, em depoimento prestado na Câmara dos Vereadores de São Paulo perante a Comissão de Inquérito de Desaparecidos Políticos,

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