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Direito à memória e à verdade - Ministério da Justiça

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DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE<br />

A matéria traz ain<strong>da</strong> depoimento inédito do vice-diretor <strong>da</strong> Penitenciária, na época, Jairo Vasconcelos. Ele estava na uni<strong>da</strong>de quando Milton<br />

e seus companheiros foram capturados na Serra de Caparaó. “Me impressionou o aparato montado para trazê-los para cá. Os militantes<br />

estavam com aspecto físico deplorável. Além de algemados no caminhão que os trouxe, estavam presos uns aos outros. A ficha deles estava<br />

acompanha<strong>da</strong> com o termo: perigosos”. Em 1980, Vasconcelos deixou a penitenciária. Quando retornou, cinco anos depois, to<strong>da</strong>s as fichas<br />

sobre esses militantes haviam desaparecido.<br />

Mesmo com as descobertas do Tribuna de Minas sobre o lugar onde o corpo de Milton foi enterrado, os familiares optaram por não fazer a<br />

exumação dos restos mortais. A irmã de Milton, Gessi Soares, 65 anos, disse que o assunto lhe trazia muitas lembranças dolorosas. “O que<br />

fizeram com o Milton não se faz nem com um bicho. Ele tinha um ideal, queria mu<strong>da</strong>r o país. Quando soubemos de sua morte, lutamos por<br />

muito tempo para que o Exército nos entregasse seu corpo. Não tivemos o direito de velar por nosso irmão”.<br />

LUCINDO COSTA (1919 - 1967)<br />

Número dos processos: 372/98 e 039/02<br />

Filiação: Maria Gracin<strong>da</strong> Costa e Pedro Costa<br />

Data e local de nascimento: 29/05/1919, Laranjeira (SE)<br />

Organização política ou ativi<strong>da</strong>de: não defini<strong>da</strong><br />

Data e local <strong>da</strong> morte: 26/07/1967, Curitiba (PR)<br />

Relator: Nilmário Miran<strong>da</strong> (1º) e Maria Eliane Menezes de Farias (2º)<br />

Deferido em: 02/02/2006 por unanimi<strong>da</strong>de (fora indeferido em 09/02/1998)<br />

Data <strong>da</strong> publicação no DOU: 10/2/2006<br />

Lucindo Costa faleceu no dia 26/07/1967, atropelado, em Curitiba, Paraná. Foi enterrado como indigente. Embora exista a certidão de óbito,<br />

entregue <strong>à</strong> esposa, Elizabeth Baader Costa, não houve reconhecimento do corpo e nem enterro pela família. No dia 24/07/1967, Lucindo<br />

viajou de Mafra (SC) para Curitiba e os familiares não tiveram mais notícias dele. Pouco depois, uma pessoa não identifica<strong>da</strong> foi até sua<br />

casa e confiscou todos os seus documentos. Cinco dias após o desaparecimento, Lucindo foi demitido do emprego no Posto de Classificação<br />

de Rio Negro, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Agricultura, por “incontinência de conduta e indisciplina”. Em sua ficha funcional, no entanto, não constava<br />

uma única advertência.<br />

O primeiro processo encaminhado <strong>à</strong> CEMDP foi indeferido por ter sido protocolado fora do prazo. Ao ser ampliados os prazos <strong>da</strong> Lei, foi<br />

aberto novo processo. Consta nos autos documento <strong>da</strong> Comissão de Indenização aos Presos Políticos do Paraná, confirmando que Lucindo<br />

Costa foi preso político, fato comprovado por sua ficha no DOPS. Ele tinha sido preso em Centenário do Sul (PR) e transferido para a prisão<br />

provisória de Curitiba, logo após abril de 1964 e permaneceu recluso por cerca de um mês.<br />

A relatora <strong>da</strong> CEMDP observou que as circunstâncias <strong>da</strong> morte de Lucindo eram estranhas: “Como um funcionário público com endereço<br />

certo e sabido – consta na certidão de óbito que residia em Mafra (SC) – fora enterrado como indigente”? Ela lembrou ser do conhecimento<br />

de todos que, na época, a repressão matava ativistas políticos, forjava documentos para demonstrar que eles haviam se suici<strong>da</strong>do ou sofrido<br />

acidentes, e eles desapareciam misteriosamente. Maria Eliane considerou incontestáveis as provas <strong>da</strong> militância política de Lucindo Costa<br />

em ativi<strong>da</strong>des políticas contrárias ao regime e, dessa forma, o reconheceu como vítima <strong>da</strong> ditadura militar.<br />

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